sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

08

Agora vai, começou de vez. O tal anjo pode não ter voado, mas o verão tá aí, na portinha, my brother de jesus. Pode estar chovendo, fazendo quase frio, mas aqui, dentro da cabeçaloca de lord miles, tá tudo trincando.

* * *
A sensação é parecida com uma ressaca filtrada. Sem vassora saindo pela boca, sem bigorna dentro do cérebro, sem o estômago parecer carne moída estragada. Fica só o andar compassado, vagaroso, a plenitude que só aqueles que atingiram o fundo do poço e andaram para o lado podem sentir. Sexo numa tarde de janeiro. O suor impregnado, caindo em câmera lenta da sobrancelha, em frente aos olhos, como uma calha em primeira pessoa. A pele curtida, os pés respirando e tudo transpirando. A estrada derretendo no horizonte. O Sol do tamanho de Deus. Nuvens, sim, brancas e puras, como só você, você sabe quem, e monotônicas e monossilábicas porque se bastam. São. Acordar e abrir uma cerveja. O som do seu sutiã tirado com dois dedos. O mundo visto de cima. Você por baixo. Olhos semicerrados. A vida despenca na rede. Chinelo pendurado no dedão. Sugou minha alma. Make it wit Chu.

* * *
à trilha da temporada:

SOL
The Killers Enterlude
Kaiser Chiefs Heat Dies Down
Juliette & The Licks Hot Kiss
Black Rebel Motorcycle Club Weapon of Choice
Kasabian Reason is Treason
Arctic Monkeys Brianstorm
Bloc Party Banquet
Spoon The Way We Get By
The Dandy Warhols We Used to be Friends
Móveis Coloniais de Acaju Swing Hum e Meio
Buena Vista Social Club Chan Chan
Arcade Fire Rebellion (Lies)
Queens of the Stone Age Make It Wit Chu
Smashing Pumpkins Bring the Light
Velvet Revolver The Last Fight
Foo Fighters But Honestly

LUA
The Chemical Brothers We are the Night
The Crystal Method Keep Hope Alive
Daft Punk Crescendolls
2 Many DJ's Peter Gunn/Where's your Head at
LCD Soundsystem North American Scum
Moby Beautiful
Hot Chip Over and Over
The GO! Team Junior Kickstart
The Cuban Brothers A Million Stories
Shapeshifters Lola's Theme

* * *
Malas prontas, pé na estrada. 2008, qualquer dia tamoaí

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

caverna de Platão, o alcoólatra

o maior segredo do mundo estava revelado no fundo do copo. Mas, por culpa de um garçom apressado, um amigo solícito, uma geladeira infinita e um barril sem fundo, ninguém nunca o descobriu.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

caraíbas


Sabe aquela piada em que Deus fala que compensaria com um povo de lascar aquela terra paradisíaca, cheia de aves, praias, florestas e sem furacões, maremotos e terremotos? Ops, pois é, então... Caiu.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

púmbleos

Jimmy Page disse certa vez que queria ver um anjo de asas quebradas. Não sei se ele já o encontrou, mas eu já - twice (o mesmo número de vezes que a vi pelada, segundo aquela música do Art Brut). A primeira foi em 2004, em Macondo, um bairro desconhecido entre a Bela Vista e o Paraíso. Certa vez, sentado nos bancos do hospital Santa Catarina, ele resolveu se abrir para mim. Disse que enquanto não se livrasse de uma certa sombra pontiaguda que pairava sobre suas asas a chuva não cessaria. Todos os dias, todos os fins de semana, todos os feriados, uma chuva lenta, modorrenta, nauseabunda e arrastada parecia se alimentar de sorrisos e esperanças - as poças aumentavam aqui, as enchentes maltratavam ali e o ano terminou com a primeira grande catástrofe natural do milênio, do outro lado do mundo. Nunca mais o encontrei, mas imagino que ele deve ter voltado a voar logo após a hecatombe.

Em agosto de 2007, imaginei tê-lo visto mais uma vez, tomando sopa em uma lata usada de Neston (a embalagem era amarela, pelo menos) junto a mendigos e famílias maltrapilhas na praça do largo de Pinheiros. Desde então tenho visto e sentido muito mais chuva pesando meu cabelo e encharcando meus sapatos. Sim, era ele. Dessa vez suas asas tinham forma de colchetes.

O anjo do Sol está caído. Abraço coletivo já.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Top faive - Melhores trechos de livros que li em 2007

5º) "Estendido sobre a capota do carro olhando para o céu escuro era o mesmo que estar trancado dentro de um baú numa noite de verão. Pela primeira vez na vida, o clima não era algo que me envolvia, me acariciava, me enregelava ou fazia suar - mas era parte de mim mesmo! A atmosfera e eu nos tornamos a mesma coisa."
On the Road - Pé na Estrada, Jack Kerouac

4º) “Se John Barleycorn pudesse manter-me naquelas alturas, eu nunca mais voltaria a ficar sóbrio. Mas este não é um mundo de graça. Paga-se segundo um horário de ferro – por todas as forças, a fraqueza correspondente; por todos os altos, os baixos respectivos; por todos os momentos fictícios que nos aparentam aos deuses, um tempo equivalente em que rastejamos no lodo como répteis. Por cada feito de concentrar longos dias e semanas da vida em instantes magníficos e loucos, há que pagar com um encurtamento da vida, e, muitas vezes, com brutal acréscimo de juros.”
Memórias de um Alcoólico – John Barleycorn, Jack London

3º) "'Imagina o que seria se um homem tivesse de tentar matar a Lua todos os dias', pensou o velho. 'A Lua corre depressa. Mas imagine só se um homem tivesse de matar o Sol. Nascemos com sorte.'"
O Velho e o Mar, Ernest Hemingway

2º) “O prazer é a única coisa merecedora de que se lhe dedique uma teoria" - replicou lorde Henry, com a sua fala melodiosa e lenta. "Mas desconfio que não posso reivindicar a qualidade de autor dessa teoria. Ela pertence à natureza e não a mim. O prazer é o teste da natureza, o seu sinal de aprovação. Quando somos felizes, sempre somos bons; mas, por sermos bons, nem sempre seremos felizes."
O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde

1º) "É totalmente humano, então, ser um nostálgico, e a única solução é aprender a conviver com a saudade. Talvez, para nossa sorte, a saudade possa transformar-se, de algo depressivo e triste, numa pequena chispa que nos dispare para o novo, para entregar-nos a outro amor, a outra cidade, a outro tempo, que talvez seja melhor ou pior, não importa, mas que será diferente. E isso é o que procuramos todo dia: não desperdiçar em solidão a nossa vida, encontrar alguém, nos entregar um pouco, evitar a rotina, desfrutar da nossa fatia da festa."
Trilogia Suja de Havana, Pedro Juan Gutiérrez

[caixa]

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

el bucanero

Nova cerveja que pode despontar no já não tão fraco mercado brasileiro de loiras (e morenas e ruivas) geladas. Estou jurado de morte e não posso falar o nome dela, mas é uma lager refrescante de garrafa simpática proveniente de um país mais próximo do que a aparência dela transmite. Muito boa, ainda mais de graça. Mas, se aqueles que a promoveram ontem estiverem me lendo (o que eu duvido, já que apenas quatro nobres pessoas lêem as dicas do bon vivant da vidaloca), atentem: essa cerveja não pode ser vendida como premium, mas como uma alternativa descolada e, vá lá, mais cara que as nossas brejas do dia-a-dia.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Quase 25

Virei cafajeste por causa dela(Fred – Gabriel Gianordoli)
Não sou mais aquele cara bonzinho
Que te trazia bolachas com leite ninho
Não sou mais aquele cara que faz cafuné, tira seus cravos e beija seu pé
Levo ao cinema, pago café.

Sou apenas um cara comum
Com dúvidas e complexos
E desesperado pra te amar
Vou me vingar em toda "raça"
Vou transformar a flor em cadela
Virei cafajeste por causa dela(2x)

Não sou aquele cara perfeito que você sempre sonhou
Não sou o príncipe encantado que você sempre desejou


Eu aos 16, 18, 21, 23.

A banda é boa e os caras, além de brothers, fazem da decepção abraço forte e do aperto no peito soco no coração. Milhouse, quero um clipe.

Contagem regreçiva!

Dezessete dias para a redenção. Ulça + Loading Myself, cara, aderi. Sensacional.

The Golden Path, Chemical Brothers

domingo, 2 de dezembro de 2007

atlas

a gente cai
a gente se fode
a gente vira piada
a gente quebra a cara
a gente se frustra
a gente chora
a gente apanha
a gente é chacota
a gente é zoado
é humilhado
é escurraçado
é lesado
a gente cai
mas a gente volta
porque a gente sabe o que é.

advento

O verde está mais verde e o azul, mais azul. Começou. Mas, sem respeitar a Lei da Compensação, única regra de Ulça, o efeito não existe.

Lei da Compensação?
Sim, barnabé. Só atinge o suceço pleno quem não tem dívidas celestes. É necessária a sensação de dever cumprido para adicionar uma cedilha à sua alma. Seja ensinando origami para crianças da Cracolândia, seja mobilizando 28 amigos para montar sacolinhas de Natal. Quem é Ulça olha à sua volta. Faça o seu, sorria, meu bem, sorria. E espere.

Desmotivado porque não conseguiu o aumento que pediu ao chefe? Sorria, a pessoa do seu lado se afogando na cerveja pode ter acabado de ter sido demitida. Isso aí, seis verbos, só para endossar.

Dever cumprido? Pronto, abrace o verão. Satisfação, plenitude, serenidade e equilíbro. Começou a Crescente Fértil.

ULÇA - auto-ajuda é o escambau. Charlatanice e felicidade. Uhu!

guirlandas

A lei Cidade Limpa bem que poderia valer para os enfeites de Natal.

aforismo daóra

"Quando a gente vai pra rua de bermuda é porque sabe que vai encher a cara."
Mateus Valadares, designer e bêbado

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

apocalipse

Festa da revista Rolling Stone com muito mais jornalistas do que celebridades. Um punhado de arrozes de festa se engalfinhando para ouvir a música eletrônica de Ig-gor (gulp) Cavalera. No bar, uísque com frutas. Se continuar assim, ano que vem teremos Ivete Sangalo empunhando guitarras, numa festa bancada pela Philips e a Coca-Cola, promovendo a mistura de cachaça com Skank e Sprite com Bonde do Rolê. Opa, já tá rolando. Sinal dos tempos.

* * *
O nariz é grande pra apontar pro bar abierto mais próximo.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Ciao

Quem tocou em Copacabana no começo do ano? Pois é, nem lembrava, seria Elton John e, ainda por cima, foi cancelado. E o que de realmente bom surgiu na música esse ano? Amy Winehouse? Oquei, se ela estiver viva no próximo inverno a gente fala mais a respeito. Novidade tecnológica? Não teve YouTube para salvar o ano, nem Google Earth, nem Wii. Só o iPhone e o Vista. É, mico. Política, uau, só falamos em Senado e CPMF – nada de bom, para variar. No mundão de meu Deus, as petrocracias ganharam mais poder e Hugo Chávez é o cara. Lindo. Aquecimento global virou febre (sem trocadilho) e, em vez de se fazer alguma coisa, discute-se se ele é real ou não. E se o etanol vai acabar com a comida no mundo, como se o problema fosse área para plantar e não distribuição. Oquei, coisas mais amenas. Cinema. Transformers é um dos melhores e Capitão Nascimento é o herói do ano em que os roteiristas pararam porque Hollywood, até ela, está quebrando. Sensacional. E quem brilhou em 2007? Alemão do BBB, Mônica Veloso e Sarkozy. E a seleção? Só não dá mais pena do que o Corinthians, na temporada em que o São Paulo acabou de vez com a graça do futebol corrupto e incompetente. Quer saber? Deu. Em dez minutos que parei para pensar nesse ano me vem à cabeça que ele foi bem mais medíocre e insosso que os que o antecederam – por esses e outros tantos motivos. Chega, 2007, já vai tarde.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Alta Fidelidade - Top faives que eu sempre quis fazer

As cinco melhores piores cantadas da galáxia (comprovadas empiricamente). É fácil: olhe fixo, venere-a com os olhos, esqueça o mundo, fale com desenvoltura e arranque umas risadas. Funciona uma a cada três, oito, 25 vezes:

5º - (funciona somente com moças vestidas de motivos florais e que tenham um senso de humor muito bom): Mas que belo jardim para plantar mandioca!

4º - Quer casar comigo? Ser minha noiva? Ah, vá, vira minha namorada então? Um caso? Fica comigo só hoje? Então me dá um beijo. (se fizer de joelhos a cena ridícula pode fazer mais sucesso)

3º - Imagina um coco. Agora imagina esse coco no alto de uma montanha. E aí, rola ou não rola? (faça isso bêbado e para alguém no mesmo estado. Risada na certa)

2º - Ei, você de amarelo, quer morar no meu castelo? (Marcelo Cassini, daltônico, tentou essa em várias de verde)

1º - (dance pateticamente na frente dela, misture Ricky Martin com Magal e Backstreet Boys, faça-a passar vergonha para ter certeza do que vai falar): Eu paro de dançar se você me der um beijo.


* * *

Hors-Concours - (Usei só uma vez, mas funcionou para uma vida inteira. Claro que havia outros importantes fatores, mas, enfim, não uso esta nunca mais, está guardada):
[E eu não vou falar aqui].

síndrome de Valentina Caran

O melhor de ter - e manter - amizades fora desse círculo medíocre da pseudodescolândia da Augusta que bebe na Mercearia São Pedro e lambe o pescoço de alguém no Astronete achando que a galocha colorida e a Feist no iPod são a última bala da rave é perguntar a eles o que é o Prêmio Esso e ouvir como desinteressada, estúpida e melhor resposta do mundo o seguinte:
- A frentista do ano?

domingo, 11 de novembro de 2007

Pós-Coca-Cola

Mateus manda para o grupo de imeio:

"alguns minutos de distração e vagabundagem....passem para seus comparsas...autor apócrifo.

*Vc é normal? Faça o teste...*Eu vi isso em outra comu e achei show o meu resultado eu conto no final!obs:ñ leia o final antes de fazer o teste!

FAÇA O TESTE... BUGS DO CÉREBRO!ATENÇÃO: NÃO LEIA O RESULTADO ANTES DE RESPONDER...

Alguma vez já se perguntaram se somos mesmo diferentes ou se pensamos amesma coisa? Façam este exercício de reflexão e encontrem a resposta!!!Siga as instruções e responda as perguntas uma de cada vez MENTALMENTE e tãorápido quanto possível mas não siga adiante até ter respondido a anterior. Ese surpreendam com a resposta!!!Agora, responda uma de cada vez:
Quanto é:15+6...
21...
3+56...
59...
89+2...
91...
12+53...
65...
75+26...
101...
25+52...
77...
63+32...
9...
5...

Sim, os cálculos mentais são difíceis mas agora vem o verdadeiro teste. Seja persistente e siga adiante.
123+5...
128...
RÁPIDO! PENSE EM UMA FERRAMENTA E UMA COR!

......E siga adiante

.........


Mais um pouco..........


Um pouco mais..........


Pensou em um martelo vermelho, não e verdade??? Se não, você é parte de 2%da população que é suficientemente diferente para pensar em outra coisa. 98% da população responde martelo vermelho quando resolve este exercício.Seja qual for a explicação para isso, é uma boa maneira de verificar sesomos normais ou não!!!O meu deu martelo vermelho mesmo,eu acho q sou normal,agora falam oq deu node vc6!!!"


Mais um problema para nossas almas atomentadas. Eu quero ser ordinário. Preciso de um terapeuta, auto-ajuda, shiatsu, cabala, milk-shake de ovomaltine, suar na academia, yôga, rúcula e tomate seco, MSN e SMS, zodíaco maia e ofurô, spa e Lya Luft, shitake e catupiry, ecstasy, filosofia barata e religião de bolso.

Grande geração perdida.

Ecstasy

Era engraçado ver aquele cara, estranhamente bonito, visivelmente alheio à realidade que lhe cercava, mas, mesmo assim, harmoniosamente envolvido por ela. Dava para ver no sorriso estampado em sua cara rosada. Não devia ser estrangeiro, mas dançava como tal – ou pelo menos fazia gênero. Parecia não se caber de tanta euforia quando andava na contramão do trio. A massa rumava a norte, ele insistia no sul. Esperto, dava de cara com todas as garotas sem precisar fazer quase que movimento algum. Os amigos passaram a imitá-lo. Com uma mão na barriga e a outra nas costas, ele era a sátira transeunte do amante latino eslavo. Parecia adorar fazer sucesso, se esbaldava com seu jeito excêntrico – especialmente porque os amigos, estes sim, típicos do meio, o seguiam e se sentiam bem e seguros por fazê-lo.

Entre uma lufada de loló, um gole de cerveja e o beijo de uma qualquer, parei de observar aquele italianinho para checar um torpedo no celular: a resposta-chave da entrevista-chave do meu livro. Repórter ridículo. Desmarquei a entrevista porque não podia perder a festa – e ela podia, do meu jeito, ser feita via celular e e-mail. Consegui as respostas que queria, estava pronto. Oquei, de volta à esbórnia. O cara estava do meu lado e eu vi nos seus olhos o brilho estúpido que eu tive, pela primeira vez, quando vi que a Renata, a menina mais linda de todas da escola, olhou para mim na missa (por conta disso alimentei uma paixão de seis meses e, é claro, ela não queria nada comigo, deve ter olhado para a espinha do tamanho de um beijinho que brotara no meio da minha testa). Otário, resolveu se apaixonar no campo de batalha das relações etéreas e superficiais, onde o beijo é artilharia e ninguém se esconde nas trincheiras.

Bom, frise-se que era uma bela loira, provavelmente dessas para quem Bell Marques é pastor o axé é catártico, mas uma bela loira. Olharam-se – alguém apertou o “mudo” do mundo enquanto 3 mil jovens de classe média e média alta se entorpeciam e se lambiam apertando com a maior força da galáxia o botão do F – trocaram um longo, tenro, apaixonante beijo. No final, o italianinho continuava olhando a garota, que logo foi puxada por uma amiga eufórica e desapareceu na multidão. E foi aí que me surpreendi. Quando achei que o mané ia ficar deprimido ou coisa e tal, ele voltou a pular e, dois minutos depois, olhou com a mesma cara de Coldplay para outra loira. Aí lembrei que era 2005 e que esta é a minha geração. A espiral roxa de um lança-perfume, a paixão que dura a vida de um protozoário. Efêmero. Instantâneo. Já. Triste.

Juiz de Fora, outubro 2005

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Ecdise

Engraçado como o mundo aqui é tão louco que até esquecemos que estamos quatro metros abaixo do nível do mar. Que mulheres espetaculares, pernas brancas do tamanho de prédios, roupas da puta que você queria para o resto da vida, bundas perfeitas. Tudo era felicidade, mesmo a comida gordurosa e os banheiros públicos pagos. Não importava, finalmente estava livre. Cinco meses.

Naquele dia, não me interessavam os cardápios de maconha indonésia, haxixe africano, tampouco os chás holandeses, os bolos espaciais. Foi com uma bicicleta mais velha que eu e pneus mais finos que a canela de uma aspirante a Mega Models que eu senti, pela primeira vez em quase um semestre, a leveza de ter quitadas todas as minhas dívidas com o Serviço Moral do Cosmos. O pior namorado do mundo, o amigo traidor, o filho ingrato, o irmão egoísta, o colega vil, o aluno vingativo largou os braços do guidão e, cheio de vento na cara, sorriu, agradecido. Era o gosto da liberdade saudável.

Amsterdã, janeiro de 2005

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

sonhos bizarros do dia V

Já havia deixado a luta tinha anos, mas eles quiseram porque quiseram que os liderasse mais uma vez. As circunstâncias eram boas, teriam grandes chances de vencer. E assim, do nada, voltei à batalha. A república de Joselinas, uma ex-colônia portuguesa no Cáucaso, via em mim o herói que a removeria da sombra opressora do pós-comunismo soviético e a colocaria no rumo do progresso graças à vaga na União Européia que lhe era prometida havia anos.

Pois bem, nunca me vi tão carismático e eloqüente em público. Fácil, fácil, pus as massas na minha mão e as conduzi à revolução. Mas foi só quando vi as primeiras mortes, as decepções iniciais, as derrotas, a dor, as janelas quebradas e os pneus queimados, as mães chorando e os homens sangrando, que percebi onde estava me metendo. Aceitei o convite de encabeçar uma reviravolta nacional por um motivo desconhecido à toda a população. Eu estava me lixando para eles, seus prédios baixos, gente cinza e carros quadrados. Só queria me tornar um líder revolucionário para impressionar aquela ingrata, que não queria mais me ver nem pintado, nem esculpido. E nem sei se ela iria curtir um anti-Che do século 21. Pensei que seria uma boa idéia, fazer uma coisa que valesse a pena - nem que fosse só por uma garota.

Levei uma nação à guerra por uma paixão que eu não tinha idéia aonde ia me levar. O amor é muito egoísta mesmo.

sábado, 27 de outubro de 2007

Resenhas de uma linha só IV (na mostra)

Inimigos do Império mostra que o "algo de podre" no ar é proporcional ao tamanho do reino. (mais aqui)

Transformaram nosso Deserto em Fogo é Michael Moore sem deboche e faz Darfur escancarar que somos tão burros quanto os mais ignorantes estadunidenses.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Sonhos bizarros (nem tanto, vá) do dia IV

- Por que você me olha assim agora?
- Porque agora eu te quero.
- Antes não?
- Antes não. Eu era boba e tinha medo de me machucar. De quebrarmos a cara de novo.
- E o que mudou? Além de eu estar melhor em tudo e você também?
- Você que diz, bobo. Agora eu percebo que o que me machuca é ficar longe de você.
- ...

E assim eu fiquei com a Penélope Cruz

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Sim, eu sou um fanfarrão

Cansei do capitão Nascimento batendo no Chuck Norris, cansei de revista que chama usuário de sócio de traficante, cansei de você que põe frases como "Tu é mu-le-que!" e "ZERO SETE, passa a DOZE" no MSN, cansei de Tropa de Elite e, principalmente, estou farto de Tihuana e funks dos anos 90.

Cansei do Huck, do Kibeloco, do Elio Gaspari. Cansei do Corinthians, de concurso de miss, do "caso Madeleine". Cansei do Renan, dos 5 mil dentistas da Teodoro, dos pedágios. Cansei do Cansei de Ser Sexy. Cansei do Cansei.

Estou cansado, tenho preguiça e quero uma cerveja. Começou o horário de verão.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Inutilidades do Largo

Em outros tempos, eu xingaria e amaldiçoaria todas aquelas criaturas gordurosas e largas que andam a passos paquidérmicos no largo da Batata. Me pergunto: por que diabos andar devagar no largo da Batata? Não tem motivo. E o pior, andam balançando os braços, como bonecos mambembes de Olinda, marionetes ocas que quase sempre me acertam as fragilidades quando tento uma ultrapassagem mal-humorada.

Não amaldiçôo mais. Nem xingo. Apenas bufo, olho para cima e rio da situação. Só não me peçam pra fazer essa patetada de ulça.

sábado, 6 de outubro de 2007

Resenhas de uma linha só III

Tropa de Elite osso duro de roer pega um pega geral também vai pegar você é bom porque explica como o morro, o asfalto, você, eu, seus amigos, sua galera, eles, sua empregada, o filho dela e o seu professor-cabeça somos todos a mesma merda que aduba o mundo.

O Grande Chefe mostra o quão pitoresco pode ser o senso de humor dinamarquês.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

sabedoria nociva

"O problema do escuro é que luz desligada não apaga cheiro."

Cansei não. Cortei

O porco-espinho estava cansado e desiludido de tantas porcas-espinho que haviam passado pela sua pinicante existência. Passado e nunca ficado. O porco-espinho, apesar da pose de mau, queria uma fêmea para chamar de sua até eles serem um só. Sim, no Bosque Encantado ainda há seres que acreditam em coisas como "pessoa da sua vida", "emprego perfeito", "família-modelo".

Mas um dia o porco-espinho conheceu a caracol. E o mundo parou quando ela o olhou de volta e veio em sua direção. Apaixonaram-se, acharam que era pra sempre, aquele oba-oba todo. Mas, é claro, o pra sempre durou bem pouco. Afinal tínhamos de um lado um porco-espinho e de outro uma frágil e sensível caracol. Qualquer atitude dele a feria profundamente. E então, desiludidos, foram cada um para seu canto, voltar a procurar o mais do mesmo.

O porco-espinho foi ouvir o sábio Pescador Barbudo, que vivia cético e feliz. O Pescador Barbudo, niilista e naturista, disse-lhe:
- Tudo isso aí, ó: cortei.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Vive

"Why'd you have to go and let it die?"

Foo Fighters novo. Cada vez (mais) melhor que Nirvana. E não vou falar "pronto, falei" porque isso já está mais gasto que "Web 2.0"

eco. silêncio. paciência. graça.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Enganados



O malfadado Congresso Nacional tentou melhorar sua imagem enlameada usando um pretenso erro de ortografia, segundo os doutores do Português. Não funcionou. Não se atinge o suceço assim, passando por cima de todas as fases: Iluminação, Auto-estima, Beleza Pura, Abraço Coletivo e Ulça.

Continuam no chiqueiro, mas fazem a fama dos fiéis à Ç, a letra mais sexy e bem resolvida do alfabeto. Não à toa, a letra sagrada de nossa seita ecumênica e charlatã.

Em breve, os preceitos das cinco fases para se atingir o ápice e beijar o céu.

Outubro é belo. O horário do Sol se aproxima. Sorriam para o lado, olhem para cima e caminhem para frente. Sem tropeçar.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Gênese

Choviam gotas grossas de lama e infelicidade naquele pedaço perdido de litoral. Tiago, o Antigo Pastor de Fêmeas, caminhava por entre ipês e amendoeiras (árvore que no outro lado da fronteira com os Assírios do Piratininga é chamada chapéu-de-Sol) com sua fiel labrador, chamada Tequila, quando avistou um grupo de navegantes visivelmente exaustos e perdidos.
- Digam-me vossos problemas, não lhes darei uma solução, quiçá um afago, viajantes!
- Pobre velho, deixa-nos. Sentimos náuseas, nossas cabeças parecem abóboras podres e inchadas, temos vassouras nos embrulhando as vísceras!
- Vós, que exagerastes sem parcimônia, que abusastes da boa vida que lhes fora dadas, mereceis o sofrimento a vós infligidos.
- E quem és tu, maracujá de pelos negros, para falar assim conosco?
- Eu sou a voz que não quer calar, aquele que veio lhes alertar do mal que acomete aqueles como vós.
- Um moralista politicamente correto?
- Talvez.
- Então faça-nos um favor, frango demente, suma de nossa frente, antes que botemos para fora todos os excessos depositados em nossos maltratados corpos.
- Pobres aqueles que abusam e sofrem, na crença de que a felicidade tem um preço.

Alheio aos comentários dos seus irmãos e amigos mais velhos, corrompidos pelo pecado e a lascívia, os três pequenos catadores de uvas Eduardo, Marcelo e Felipe ouviam os comentários daquele velho estranho. Na noite anterior, eles dormiam enquanto os quatro mais velhos comemoraram a chegada àquele pedaço perdido de litoral em um bordel inflamado de mulheres baratas e cervejas vagabundas e vice-versa.

- Sabem por que falhastes, viajantes?
- Bebemos sem comer antes, ó, senhor dono do Conhecimento Eterno!
- Falhastes a vida toda porque não tendes gratidão. Agora olhais o céu. O que há?
- É tudo cinza, é tudo triste, é tudo sem vida.
- Pois assim está desde que essa vila, nesse pedaço perdido de litoral, só olha o que não tem, só lamenta o que não existe, só chora pelo o que não há, só clama pelo o que não vem, só se lamuria pelo o que não está. Assim está há 40 anos e vós sois o tipo de gente deste lugar. Virarão pó com ela, pois daqui nunca sairão. Bem-vindos a Sagoma.
- Aqui não é Gozorra?
- Não. Gozorra foi engolida pelo vulcão. O oráculo diz que a próxima erupção deverá chegar àqui...
- Quando?
- Dentro de sete...
- Anos?
- Dias.
- Correto. Agradecemos a informação. Senhores, levantar âncora, pois que vomitem no mar!
- Não tens saída. Estava escrito nas estrelas que nunca vistes em vossa lamentável existência. Estais fadados a compartilhar o fim deste pedaço perdido de litoral.

E não falaram mais nada os navegantes. Seguiram calados à vila e se afogaram em todas as tavernas e todas as camas de todas as meretrizes de Sagoma. Após seis dias de orgias e depravações, os quatro viajantes - que haviam sido cavaleiros em outros tempos e outras paradas - sentiram dentro de si o maior de todos os ocos, aquele que suga cada sopro de ar e significado de suas efêmeras vidas. Uma sombra de depressão lhes varreu o brilho dos olhos, o vazio eterno da Grande Verdade, a Verdade Branca, abraçou suas pobres almas por trás, a tristeza maior do mundo brotava de cada falha das paredes beges e esfareladas, roubando o espaço que pertencia às ervas-daninhas. Não havia mais força ou vontade, nem nos viajantes nem em nenhum dos 166 habitantes da vila, para sequer esboçar uma reação frente à onda de lava e calor infernal que os engoliu e transformou em rocha o pouco que restava de vida naquela maldita vila.

* * *

Tiago, o Antigo Pastor de Fêmeas, observava, do alto do monte Mor, a fumaça negra e quente que subia dos restos daquele pedaço perdido de litoral.
- Venhais comigo. Tenho pouco tempo para ensinar-lhes o que deve ser passado àqueles iluminados. Um segredo ensinado pelo mestre de meu mestre, Camus de Aquário, e que lhe foi passado pelos outros lamas ao longo dos séculos.
- Olhais para cima.

Eduardo, Marcelo e Felipe obedeceram Tiago, o Antigo Pastor de Fêmeas, e viram, pela primeira vez em sua ainda imberbe adolescência, a mistura leve de vermelho, laranja, rosa, roxo, lilás, azul e amarelo que compunha a aurora de Valhala.
- Repitais comigo: Uuuulllçaaaaa
- Uuuulllçaaaaaaa!

Ao seguir os passos de Tiago, o Antigo Pastor de Fêmeas, os catadores de uvas sentiram o abraço suave de todo o céu. E sorriram, gratos como nunca pelo pouco que tinham e lhes era mais que suficiente para irradiar e compartilhar sua felicidade.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Sonhos bizarros (da semana) III

"Que diabos este retardado está fazendo com o paralelepípedo?
- Não sei, mas o cara é forte, o bagulho é do tamanho de um baú!
- Porra, ele vai jogar na gente!

POW (minhas onomatopéias são infantis até em sonhos tarantinescos. Foda-se, sou uma criança feliz), o cara atirou a pedra no capô do carro. Um estrondo, vidros trincados, arranhões, arrasou a nossa caixa-preta. Por quê? Sei lá, estávamos parando o carro, rumo à tradicional voltinha no centro de São Sebastião, depois da pizza de domingo à noite.

Pegamos os porretes e fomos para cima do cretino. Era pra ser um susto mas alguém errou a mão. Matamos o coitado.
- Vamos assumir ou vamos nos fazer de playboys cuzões?
- Somos playboys legais. Vamos assumir. Foi defesa, carro é mais importante que muita coisa neste país. Que esse otário aí, com certeza é.
- Então vamos nessa, duas semaninhas no xilindró.
- Uhu!

Desprovidos de culpa ou remorso, entramos em uma rua de paralelepípedo em que, de repente, as casas coloridas colonias brasileiras viraram cabanas enxaimel da Floresta Negra. Algum mala começou a discutir Lutero, tive que intrometer:
- De 95 em 95 teses a gente chegará na auto-religião e o individualismo virará dogma.
- É?
- É.
- Mamãe vai bem?

Mas o padre ciclope ouviu o que eu disse e se virou para falar. Na verdade, só vi que ele era um ciclope quando ele se virou, é claro. Um grande olho, na boca, não na testa. Não sei de onde saía sua voz, mas ele disse, em tons monocórdicos:
- Sim, você está certo, meu filho. Mas veja, O Segredo - The Secret é muito mais que ligar um sinal positivo na sua mente e esperar que tudo venha até você. O Segredo - The Secret é a fonte e, você, o torneiro mecânico.
- Correto.

A vila alemã se transformou em um Tetris 3D com linguagem meio Bomberman, meio Mario. Bichinhos fofos caím no abismo e voltavam mais felizes. Eu fiquei amigo deles.

E ficava olhando para ela. Ela que às vezes era ela, mas me confundia e se transformava em outra. E a outra era ela e eu não tinha as duas. Não sabia mais o que queria.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

sem saber

Os sapatos bicolores herdados do avô estavam sujos de pó e cinzas da cana, que naquela época do ano chegavam a encobrir o céu e sol de mil anos que tostava a vila. Os passos eram os mesmos dos tempos áureos, seguros, compassados e cheios de vida. Mas o Canalha, mesmo sem saber, estava ficando velho. Duas cores não cabiam mais em um sapato. Suíças estavam por fora. E o cabelo delineado milimetricamente para faturar todas as menininhas da praça então? Nem se fala.

O Canalha estava datado. Virou um holograma do passado, de um tempo que só ele achava que ainda existia.

Mas ele continuava a desfilar sua gola alta e seu desodorante de spray pela calçada amarelada. E, apesar de envelhecido, o Canalha continuava atraindo olhares fêmeos. Passou na sorveteria, escolheu o de abacaxi. Entrou na banca, pegou a revista da semana. Parou para limpar os óculos de aro dourado quando viu, na sua frente... Não, não a mulher da sua vida. Apenas um brechó.

Ao entrar, foi atendido por uma mulher do tempo dele, que não devia receber ninguém há pelo menos uma geração. Mas o jargão comerciário ainda falava mais alto:
- Essa daí tá saindo muito, né? Pessoal tá usando aí.
- Vou levar e quero também essas pulseiras grandes aqui.

O Canalha esboçou um sorriso, pagou os vinténs pelas pulseiras coloridas e a camisa de canalha que comprara e voltou satisfeito para casa - seu mundo ainda existia, seu guarda-roupas ainda estava cheio de camisas estampadas e desbotadas, correntes, pulseiras e anéis dourados e prateados, gel Gozzano e pentes finos (sim, ele guardava tudo no mesmo armário - o "armário do abatedouro", chamavam os puxa-sacos do Canalha).

No caminho de volta para casa, viu a Moça Bonita conversando com suas plantas no jardim. Era a única mulher da vila que via no Canalha algo além de um canalha. Mesmo assim, a Moça Bonita, que não é boba, nunca se meteu com ele. O Canalha, então, insistente como sempre, arrancou uns girassóis do jardim do Namoradão, um rapaz fiel a sua amada, mas um tanto bobo, e os deu junto com as pulseiras coloridas para a Moça Bonita.

Ela agradeceu
- Obrigada.

Mas disse que não podia sair com o Canalha
- Mas não posso sair com você.

Porque ele a magoaria
- Porque você me magoaria.

Sim, as palavras precisam ser repetidas. Porque o Canalha as martelou na cabeça o resto do dia.

Deixou a Moça Bonita conversando com as plantas em seu casebre vermelho e voltou para casa, consciente de que, agora sim, havia visto a mulher de sua vida (embora ele não saiba direito o que é isso e conheça apenas mulheres da vida). Caminhou ainda mais confiante, quase pedante, mas não deixava mais seu ego atrapalhar. "Ego é um animal que deve ser deixado em casa", ele ouvia de seus mestres da velha guarda.

Chegando em casa, Magau o esperava para a caça que eles haviam programado há muito. "Hoje é a desforra. Vão estar todas lá, você vai dar a volta no alfabeto e voltar esfolado para casa".

Mas o Canalha, embora achando que não, estava velho.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Luto pelo Litro

Pó, canos soltos, ladrilhos quebrados, reboco, fios enrolados e um excesso de vazios, escuros e ocos. Foi o que eu vi pela janela suja e trancada daquele que foi o palco das fofocas inesquecíveis, das piadas de dia seguinte e da maionese verde.

Nenhum de nós começou a namorar no Litro. Mas era lá que a gente sabia de quem gostava de verdade. Ninguém se agarrou nos banheiros sem trinco, mas era naquelas mesas tortas de madeira que revelávamos os mais pervertidos feitos e, principalmente, os não-feitos. Ou, mais ainda, os feitos e desfeitos e defeitos dos outros e do resto do mundo.

Era a Roberta que enfiava cerveja goela (güela?) abaixo, era a estupenda música brasileira que fazia cócegas no esôfago ali, na esquina da Sumidouro com a Ferreira de Araújo.

O Litro era boteco que queria ser bar. Foi embora sem se despedir. Seus clientes mais apaixonados não eram mais universitários. Mas lá voltavam a ser, naquela terra de ninguém em que sotaques gaúchos e capixabas, cariocas e mineiros, paulistanos e, vá lá, paranaenses se misturavam ao sal da batata frita que caía no colo. Uma balbúrdia sem fim, que não respeitava os limites impostos pela corda do host de cabelo oxigenado em dias de pagode.

Eu gostava de voltar a pé do Litro. Voltava feliz e com o bolso ainda cheio.

Continuamos aqui, bebendo na esquina. Até descobrirmos nosso próximo Bar.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

fonte de renda


Brothers, contem com a ajuda desta boa alma. Abram seus corações a ele e lhe paguem uma cerveja gelada.

Ulça

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

...

Idiôta. Está com a síndrome de Valentina Karan....

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Filosofia Ulça

Dia desses uma discípula Ulça veio me consultar, ao que tivemos uma proveitosa conversa, nesses comunicadores virtuais que nos engolem a ponto de não ligarmos mais por falar mais com os dedos do que com a língua. Enfim, a quem ainda é iniciante em minha sábia sabedoria anti-auto-ajuda, a conversa pode elucidar alguns pontos.

- ó mestre, me contai: como alcançaste o çuçeço?
- apegando-me somente ao essencial
- o que é essencial para ti? dinheiro, mulheres e bebida?
- dinheiro eu cortei pq me deprime
- eu cortei pq ele nao chega ate mim
- mulheres e bebida sempre
- se for uma mulher especial, como minha senhora, e uma boa bebida melhor ainda
- gosto da versão masculina disso: homens e bebida
- isso, homens e bebida: foco nisso. Enquanto não achar o seu Homem, divirta-se.
- incluiria comida tb
- comida tb
- mesa de bar resumiria tudo: tem comida, tem bebida e tem alcool
- mas equilíbrio sempre. harmonia
- existe a Bola de Neve Church, ne?
- eu já fundei a minha. vc pode se tornar mais uma fiel Ulça. temos comunidade no orkut
- posso ser fiel a 2 igrejas simultaneamente?
- sim, não temos preconceito e somos ecumênicos
- o que prega sua igreja?
- Cultuamos o deus Sol, como os antigos faziam, mas de um jeito diferente. Precisamos estar embriagados por qualquer substância que te traga felicidade e vicie pouco
- mas o deus sol so aparece durante o dia, e, pelo que vejo, vcs oram mais pela noite.....
- O Sol nos ilumina e deixa felizes. Quando brilha em excesso, é tempo da Crescente Fértil, a mágica era entre fins de novembro e Carnaval, aka VERÃO
- como fica isso?
- aí é que está: o sol, em tempos amenos, abençoa-nos com invernos frescos e tardes de moletom, o que nos leva a vinho e destilados e queijos e molhos. à noite, o culto é preparado pela formosa Lua, que tão bela alumia os olhos
- e o frio faz nos aproximarmos mais do sexo oposto, pelko conforto que isso nos proporciona. (eu pelo menos me aproximo do sexo oposto. Mas todos sao livres para se aproximar de quem quiser)
- (isso, vc está pegando a doutrina) A Lua refresca e inspira para o grande clímax, que é o nascer do Sol, nossa eucaristia fútil. Entramos em êxtase e celebramos a vida, lembrando, mais uma vez, como ela é fenomenal e como somos abençoados. Felizes, contagiamos as pessoas ao lado, que terão dias mais contentes ao nos ver. Isso é ulça. Beijar o céu como se ele fosse o homem da sua vida, mesmo que só por hoje.
- já temos uma biblia ou algo parecido para os Ulça?
- ainda não, mas penso em escrever
- ninguem escreveria como vc, mestre Ulça. (ta bom, talvez o Gustavo tb)
- Gustavo ainda tem muito a aprender neste quesito. ele guarda mágoas que precisam ser liberadas, sinto isso
- qual a bebida oficial da igreja? ou seria seita> parece mais de loucos
- cerveja, sempre, pq é a bebida da felicidade
- gosto dela. qualquer cerveja? De Nova Schin a Boehmia?
- respeitamos os gostos de cada fiel, mas pregamos pela excelência. Vinho é sabedoria, champanhe é sexo, destilados são loucura. todos fazem parte, mas o elo central é a cerveja. Por experiência própria, a qualidade e o nível das conversas são proporcionais aos do álcool ingerido. Quando tomei Nova Schin falava de axé. Duvel me fez questionar a pequenez da Terra
- gostei dos ensinamentos. a esta hora da manha, ainda nao estamos preparados a todos os ensinamentos que Ulça proporciona - e Brahma, o que proporciona?
- não reparei. mas coisas boas, cotidianas
- hum;........ e quando ingerimos caipira de 51?
- a vida é mais doce quando é de açúcar
- e o sensacional rum cubano? (sem açucar)
- pés na areia são mais felizes

Ulça.


quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Algumas coisas não têm por que existir. Chuchu, mosquitos, cerveja sem álcool e Jennifer Lopez são bons exemplos.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Sonhos bizarros do dia II

- Desculpa, cara, acho que exagerei. Não foi legal ter arrancado sua cabeça e depois chutado ela pro jardim.
- Tudo bem, já cresceu outra de volta. Mas eu só quero saber quem é que vai pagar os R$ 40 para eu recuperar minha memória. Não se faz back up assim, de graça.

***************************************(curral)

"Nunca imaginei que estaria de volta a Varadero em seis meses. Que pessoas horríveis, em que diabo de inferno farofeiro estou? Mas também, o que eu tô fazendo nesse parque aquático!? 'Jerusalém 5 d.C.', onde já se viu tema mais insano pra um parque aquático!? Pessoas despencando de quedas d'água de 15 metros de altura, montadas em toras, sem nenhuma proteção. Todos de túnicas. Todos barbudos. Filisteus e comunistas? Vamos bien..."

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

As mentiras que os homens contam


"No inverno todo mundo fica mais chique."

PNC! A regra é clara, boçal: quem se veste mal não escolhe estação pra ser jeca. É brega o ano todo. Seja usando esmalte de estrelinha vermelha com havaiana branca encardida e pelanca caindo do biquíni, seja de bota Ramarim, cachecol verde-limão e agasalho de nylon azul-bebê.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Resenhas de uma linha só II

Aproveitei a semana em que o cinema cabeçudo perdeu Michelangelo Antonioni e Ingmar Bergman para prestar minha homenagem à mais completa arte do século 20. Fui ver Harry Potter e Transformers no cinemão.

Harry Potter e a Ordem da Fênix é mais um exemplo de que, sim, filmes podem ser melhores que seus respectivos livros - mesmo que isso não digue lá muita coisa.

Transformers é a democratização nerd de Velozes e Furiosos: Colecionadores de bugigangas podem gostar tanto de carros quanto pitboys de corrente no pescoço - ainda mais se o possante virar um robô gigante.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Devaneios pé-de-serra

Outra das tantas noites fugazes e insólitas, tratei de observar as pessoas, como ajo quando não tenho muito o que fazer ou quando me sinto um desbravador de gentes, um bandeirante flaneur - ou seja, quase sempre. Ainda mais naquele forró em que me sentia confortavelmente um etê.

E esse garoto me chamou a atenção por três segundos. Três aparentemente insignificantes segundos. Mas era tempo de uma vida.

No primeiro, estava parado, assim como eu, mas olhando sem foco para algum ponto em Andrômeda ou para um anjo que passava flutuando em morangos. O rapaz parecia feliz, mas não pleno. Faltava-lhe. Era uma grande e redonda e gelada e vistosa bola de sorvete. Isolada numa tigela igualmente branca que a deixava ainda mais desejável e fragilmente protegida.

No segundo momento, ela chegou. Minutos preciosos gastos na fila de um banheiro de clube de interior. Uma intensa lua crescente brilhou no rosto dele, refletindo o sorriso puro que a garota lhe acenara.

No terceiro segundo dessa cena que não sei por que me marcou a noite a ponto de a estar passando para o papel, a bola de sorvete foi embebida e coberta inteiramente por uma grossa, marrom, cheirosa, quente como sauna calda de chocolate.

Derreteram-se.

Chapada dos Veadeiros, Abril 2007

sexta-feira, 27 de julho de 2007

sonho bizarro do dia

Era uma cozinha de azulejos brancos (alguns levemente encardidos, outros trincados) até metade da parede, com uma porta para o quintal, a grama tão alta quanto o cabelo do moleque que enrolou duas semanas para cortá-lo. Na porta da geladeira, tão velha quanto aquela casinha de interior, um gatinho preto, do tamanho de uma mão, com uma cabeça grande e desproporcional. Um Hello Kitty freak show. Miava e ronronava, seria fofo não fossem aqueles dois tocos em seu lombo. O que achei ser um par de asas mal formadas eram, na verdade, patas traseiras inutilizadas. Órgãos vestigiais ou uma ecdise mamífera preguiçosa. Não serviam para nada, apenas como saias horrendas das patas normais.

Fecho a geladeira e há pequenos cachorros, iguais ao gatinho. Devia ser uma nova promoção do McDonald's das trevas, aqueles montes de cachorrinhos e gatinhos, lindinhos e bisonhinhos, feinhos de dó, frágeis e miseráveis. Não me espantaria se fossem anencéfalos. Proliferavam-se como gremlins.

Fui até a sala. Ao voltar, só havia um cãozinho. Os outros sumiram e o gatinho preto havia sido degolado por um falcão, que bebera seu sangue até arrotar, abandonando o corpo deformado do animal como uma lata vazia e amassada. Cuidei do cachorro. Gostava dele, afinal.

Mim no geum

Tá lá:
http://vcnog1.g1.globo.com/VCnoG1/0,,MUC77933-8491,00.html

Jornalismo colaborativo é serviço comunitário de quem?

segunda-feira, 23 de julho de 2007

O Brasil lançou um foguete...


Cuba, por enquanto, não vai lançar. Mas no dia do lançamento do foguete em Alcântara, as cubanas, de novo, acabaram com as brasileiras, que amarelaram no fim - de novo. Refiro-me ao vôlei feminino dos PANacAmericanos, competição que inventaram para o Brasil achar que é potência olímpica.

Brown shower em Congonhas.

Enquanto o Brasil não ganha no vôlei, quero ver Cuba lançar um foguete. Cuba lançar, Cuba lançar.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

pensação do dia

"Se dói teu joelho, lembra, motherfucker, que não foste contratado por cotas para deficiente."

terça-feira, 17 de julho de 2007

Resenhas de uma linha só

Medos Privados em Lugares Públicos é um filme bobo com final de longa dos Trapalhões.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Líbano pra Mickey entender

"O Líbano pode ser comparado a uma bomba-relógio cujo tique-taque é acompanhado com angústia por todo o mundo."

"O Líbano vive aquele momento inicial de uma disputa entre pesos-pesados. Os boxeadores se encaram no centro do ringue, na expectativa de quem tomará o primeiro golpe."

E tem mais, sobre Clint Eastwood:
"Dirigir um filme é mais ou menos como comandar uma batalha."

* * *

Metáforas lulísticas. Normal seria se fossem do presidente. Mas, ironia da vida, são de Veja.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Sustenta aqui, ó

Acabei de chegar de uma reunião do Planeta Sustentável, iniciativa bacana patrocinada, entre outros, pela Bunge, que produz o óleo Soya, que tem soja transgênica na fórmula, que deixa ambientalistas em polvorosa. Na palestra - graças ao bom Deus sustentada por carolinas, sanduichinhos e suco de melancia - no suntuoso terraço Abril, de onde se vê a beleza púmblea da marginal Pinheiros crepuscular, o tema discutido era o de maior inserção de reportagens que tratam do tema do desenvolvimento sustentável.

Enquanto isso, no bar, este que sempre chama minha atenção, três televisões ligadas para ninguém ver. É, apaguem a luz e desliguem o monitor.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Ambulante

Era mais uma tarde corrida de trabalho quando alguém interrompeu o silêncio de berros da chefia e teclados sendo esmurrados: "Felipe, lembra do Armandinho?"

Assim como qualquer um, eu respondi o óbvio: "Aquele do 'quando Deus te desenhou ele tava sem borracha?'"

"Não, Tchulipe, o Armando, aquele que vendia bonecos de pano na Vila...Pois é, morreu."
"Poutz, que droga. Velhinho gente boa."

Nas duas horas seguintes, outros amigos e conhecidos, de outras procedências e galeras, comentaram o mesmo: "O Armando, dos bonecos, velho figura, bateu-se, escafedeu-se pras bandas de lá."

Teve até um chegado de Cásper, Matheus Pichonelli, cronista frustrado e repórter maldito, que escreveu um texto daóra sobre Armando, mas eu, tão frustrado e maldito quanto e possivelmente mais cansado, apaguei por acabar (acabei por apagar) e não vou republicar aqui.

Anfã. Armando me fez lembrar a velha que vendia sacolé (aka geladinho) pelas escolas da metrópole resendense. Ninguém falava dela, mas todos a conheciam, todos compravam seus chup-chups de groselha supermelados. A mesma coisa rolava com a tia dos churros da hora do recreio, o doidão do coco da praia, o cara da pipoca na saída da igreja. Quando sumiam, morriam ou se elegiam vereador em sua cidade em Minas, a gente se tocava de como eles davam um colorido lúdico e amistoso às ruas.

Armando era desses que tornavam as ruas da Vila Madalena e a região da Paulista, sempre cheias de buracos, matinhos, cocôs, mendigos, manobristas, flanelinhas, valetes, raio que os partam, chinelos de couro, mochilas de faculdade, olheiras de expediente e botas horrendas, um lugar mais humano e mais legal. Mesmo que quase ninguém percebesse isso.

Nunca comprei um bonequinho de pano dele.

terça-feira, 26 de junho de 2007

À futilidade

Mãe, voltei a escrever na parede! Olha pra mim.