Era mais uma tarde corrida de trabalho quando alguém interrompeu o silêncio de berros da chefia e teclados sendo esmurrados: "Felipe, lembra do Armandinho?"
Assim como qualquer um, eu respondi o óbvio: "Aquele do 'quando Deus te desenhou ele tava sem borracha?'"
"Não, Tchulipe, o Armando, aquele que vendia bonecos de pano na Vila...Pois é, morreu."
"Poutz, que droga. Velhinho gente boa."
Nas duas horas seguintes, outros amigos e conhecidos, de outras procedências e galeras, comentaram o mesmo: "O Armando, dos bonecos, velho figura, bateu-se, escafedeu-se pras bandas de lá."
Teve até um chegado de Cásper, Matheus Pichonelli, cronista frustrado e repórter maldito, que escreveu um texto daóra sobre Armando, mas eu, tão frustrado e maldito quanto e possivelmente mais cansado, apaguei por acabar (acabei por apagar) e não vou republicar aqui.
Anfã. Armando me fez lembrar a velha que vendia sacolé (aka geladinho) pelas escolas da metrópole resendense. Ninguém falava dela, mas todos a conheciam, todos compravam seus chup-chups de groselha supermelados. A mesma coisa rolava com a tia dos churros da hora do recreio, o doidão do coco da praia, o cara da pipoca na saída da igreja. Quando sumiam, morriam ou se elegiam vereador em sua cidade em Minas, a gente se tocava de como eles davam um colorido lúdico e amistoso às ruas.
Armando era desses que tornavam as ruas da Vila Madalena e a região da Paulista, sempre cheias de buracos, matinhos, cocôs, mendigos, manobristas, flanelinhas, valetes, raio que os partam, chinelos de couro, mochilas de faculdade, olheiras de expediente e botas horrendas, um lugar mais humano e mais legal. Mesmo que quase ninguém percebesse isso.
Nunca comprei um bonequinho de pano dele.
segunda-feira, 2 de julho de 2007
Ambulante
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Um comentário:
eu comprei vários. sempre chamava ele pelo nome, ele fazia cara de conteúdo pra mim e eu respondia: "não lembra de mim, né?". ele nunca lembrava mesmo, mas da última vez que o vi, depois de ter feito pela enésima vez a mesma pergunta ("quando você vai me dar uma entrevista"), consegui um telefone, o da casa dele. não liguei.
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