sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

10 toques

Ulça não tem mandamento porque ulça é anárquico, embora ache a anarquia, enquanto (sic) filosofia, estúpida, sendo necessária a presença de um monarca. Portanto, para tentar iluminar um ano que começou sendo e às vezes esquece que é, lá vão os 10 toques ulça. Toque é bom e todo mundo gosta - de dar ou ganhar.

Uma ressaca feliz é melhor que um porre triste

Virtudes que você tem desde que nasceu - como ser belo ou inteligente - são mérito dos seus pais, não seus.

Rancor embrulha o estômago

A vida é curta demais para se beber álcool vagabundo, sentir inveja e morar e trabalhar sempre no mesmo lugar

A vida é longa demais para se fazer juras eternas, ver filmes ruins e ir a festas furadas. Faça mesmo assim

Amelie Poulain vivia ulça e era um suceço

Saber vencer é mais difícil que saber perder

Hobbies, de seda, de voar ou de comer, são bons, sim

Tenha pequenas excentricidades

Escute os velhos, as crianças, os cachorros e as plantas. Sóbrio ou não

Crie o hábito de se olhar um ano atrás. Ficou feliz? Bem-vindo

11 toques, não 10. Gentileza gera gentileza e generosidade faz cócega no lado de dentro do peito

máxima mínima

Tão impossível e inverossímil quanto chester vivo, judeu mendigo e botafoguense feliz é indie chefe. Sério, você já viu um? A explicação é simples. Indie não consegue enxergar um palmo além daqueles que o cercam e alimentam sua cultura de querer estar sempre na ponta da onda da tendência. Por isso eles servem para indicar modinhas hype cult, mas não para dizer o que realmente é fenômeno. Repara: eles dizem que uma menina de 15 anos que canta bonitinhamente com muitas vogais é O QUE TÁ PEGANDO NO ATUAL MOMENTO DE AGORA. Mas nunca ouviram falar - e nem querem - de Victor e Léo. Por isso indie nunca é chefe. Mas os chefes têm sempre pelo menos um indie por perto.

* * *
E para aproveitar o momento "não quero ser indie apesar de não sair da Augusta - e não é para pegar puta", uma resenha: American Pie 2 é a comédia idiota que sintetiza a geração 2000.

Isso aí, a gente. E é hilário. Melhor que Prozac

* colaborou lord miles

curta uma deprê

Quantos anos você tem? 18, 24, 36? Descubra o que grandes caras já tinham feito com a sua idade e veja o tempo que você perdeu estudando.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

espanha um país de todos

O Brasil vai lançar um foguete? Não, não vai. Se lançar, explode. Cuba também vai lançar? Só se for movido a banana e rum. E a diplomacia do Brasil, pra que serve? Pra gente pagar mico, oras.

Oquei, a Espanha é um emergente na UE e ainda não sabe lidar direito com as levas de imigrantes. Mas humilhar uma estudante da maior universidade do Brasil, obrigá-la a comer no chão e impedi-la de participar do congresso de Física em Portugal (aonde ela ia) para fazê-la retornar ao Terceiro Mundo é muito, mas muito mais grave, do que os macacos andando por Ipanema mostrados naquele fatídico episódio dos Simpsons, por exemplo. E não é porque é estudante da USP. Poderia ser você, que vende celular no shopping e desejava lavar pratos em Madri para ter uma grana extra pro casamento. E isso é o que mais espanta. A menina é de uma elite, no mínimo intelectual, e ninguém moveu uma palha pra fazer um escandalozinho internacional. Pelo menos até onde eu vi.

Pois naquela vez fez-se um estardalhaço, posamos de puta sem receber o troco. Fomos escurraçados e a postura do ministério do Turismo nos fez ainda mais ridículos. Agora, com um evento realmente sério, o que nossos representantes para além das fronteiras estão fazendo? A Espanha foi o país que mais deportou brasileiros em 2007, e o caso da estudante Patrícia só chamou a atenção pela maneira brutal como foi tratada.

E o que fizemos em relação às autoridades espanholas? Mais fácil e mais patético é atacar Homer Simpson. E, depois, receber em dobro, na voz de Lisa: "O Brasil foi o pior lugar em que estivemos".

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

nova ordem mundial

Que semana. Kosovo, depois de tanto enrolar, resolveu sair do armário geopolítico. Ruim para a Sérvia, a ex. E o Bush virou herói nacional. De um país ali pertinho do Oriente Médio, do Afeganistão. Viu só, tudo depende do ponto de vista.

Comandante Fidel conselheiro do Universo já. Obama bin Laden na Casa Branca, Al Gore dono do mundo e do Google e todo o poder aos Orleans e Bragança aqui. Anarquia monarquista é a solução do planeta.

* * *
A partir de um dia um dia desses vou começar uma nova seção: Estadistas que adoramos. Uhulça!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

good fellas

Adolpho e Martino foram grandes amigos, desses que, hoje em dia, são raros como pastel de feira bom. Os dois imigrantes, os dois tentando (e ganhando) a vida na cidade cinza, que, naqueles tempos, era uma mistura de bege, verde e azul muito da bacana. Os dois boa-vida, os dois sabedores do que realmente vale a pena na vida: ela é curta demais para tomar vinhos ruins e ler livros vagabundos. Os dois exímios cortezes galanteadores, os dois viveram até o fim com mulheres lindíssimas, que "marcaram época na sociedade", como lembram os que sobreviveram para contar a história. Os dois viajantes natos, os dois empreendedores. Enquanto um mexia com banco - ajudou a trazer para a cidade cinza aquela instituição que foi comprada pelo gigante holandês que foi engolido pelo titã espanhol - o outro importava de tudo, até avião, o que fez ele trocar idéias e abraços com Antoine (o do pequeno príncipe) e Alberto (o daquele avião que parece que está ao contráro quando pilotado).

Mas, apesar de todas as vitórias que fizeram eles realizarem o sonho da América, o mais gratificante foi, depois de décadas de amizade verdadeira como cachorro satisfeito, ter um herdeiro em comum. Adolpho já tinha partido quando, no leito de morte, Martino disse à mulher de seu neto, embuchada: "vou dar a boa-nova a meu amigo. Enfim, um bisneto em comum".

Dois meses após a morte de Martino, veio o rebento. E logo nasceriam outros dois. Sortudos aqueles que têm num descendente a encarnação de uma amizade antiga.

Especialmente porque não foi o filho de um que se atracou com a filha do outro, que fique bem claro.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

resenhas de uma linha só

O mote de Paranoid Park é um acessório que poderia ser trocado por um pé na bunda da namorada ou um zero na escola.

tequila

Era a época. O auge da esbórnia. A única paixão era a carne pingando na brasa e as latas suando mais do que eles naqueles dias de loucura e delírio. Não davam a mínima para as cenas grotescas que protagonizavam. O Ricardo e suas tetas caídas pondo toda a água para fora da piscina. O Felipe e aquela cachorra, me deixando aqui sozinha... Cachorra não, vagabunda, que ele trazia pra casa sempre que os moleques estavam aqui, só pra tirar foto dela pelada ou deixar a porta do quarto aberta, sabendo que todo mundo ia invadir para vê-lo em ação. Ou vê-la, que foi o caso. O Eduardo e o Gustavo, imbecis, dançando no telhado. A gringa fazendo todo mundo de bobo. Aquelas danças, como era possível serem tão ridículos. Começavam a se lambuzar e chacoalhar. Poderiam ser travestis em São Paulo, aquela cidade cheia disso. Mas eram eles, os idiotas que já mandaram na cidade. Rebolavam de tanga e agarravam-se uns aos outros, só pra provocar as poucas meninas que ficavam até tarde para ver esse horror. Eu não tinha jeito, era obrigada a ver. Mas tudo bem, me divertia, dava risadas, me molhava à beça. O dia inteiro, a noite inteira. Foi um tempo bom, tenho certeza que eles se lembram quando começaram com eça beçteira de ç çedilha.

Só não sei se eles vão se lembrar de mim. Eles foram embora e eu continuei aqui, dormindo debaixo do tanque, até morrer, semana passada.

Verão 2006

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

mudou tudo

"Faço algo parecido com jornalismo desde os 11 anos. Naqueles idos de 1994 e 95, eu resolvi fazer toda a cobertura do campeonato de carrinhos do bairro. Os carrinhos eram miniaturas de no máximo 10 centímetros e os privilegiados pertenciam às equipes de luxo, Hot Wheels e Matchbox, que disputavam ponto a ponto o torneio. O bairro em questão era o Jardim Brasília, na mais mineira das cidades fluminenses, Resende, na divisa com Minas Gerais e São Paulo. Acompanhava os treinos para o grid de largada, as corridas e os escarcéus dos participantes, que brigavam e estapeavam-se constantemente. Distribuía meus textos sensacionalistas na simplória diagramação que criara e oferecia aos “pilotos” o Eclipse Total, que depois ganharia mais capricho no acabamento, com o cafona título Goldenclipe Total.

No entanto, ninguém queria conferir meu trabalho. Aqueles preguiçosos amigos do bairro não gostavam muito de ler e eu tinha que esfregar-lhes na cara as notícias. Numa tentativa, apelei para gráficos e caricaturas infantis. Mas o problema mesmo não era a falta de interesse deles, mas a total parcialidade deste aprendiz de repórter. Como eu era um dos líderes do campeonato (fiz vultosos investimentos que rasparam mesadas na compra de Lamborghinis e Porsches), usava minha singela publicação apenas para desestabilizar os oponentes. Cansados de tanta intriga e discussão, todo mundo largava a disputa no meio e, por três ou quatro edições consecutivas, o torneio nunca chegou ao fim. Aprendi que essa tal imparcialidade é, de verdade, muito importante para qualquer jornalista que almeje respeito e credibilidade na sua carreira. É claro que não cheguei a essa conclusão com 12 anos, foi um pouco depois.

Aos 16 anos, aproveitando todas as benesses que a vida de classe média em uma cidade interiorana podia oferecer, quis dar um passo além daquela rotina fútil de xingar o professor de química, apaixonar-se por uma amiga do irmão e descobrir os prazeres do álcool em festas de amigos. Criei um outro pasquim, com o intuito de ser a voz dos jovens. Não dos adolescentes engajados, com uma causa por lutar, mas daqueles simplesmente...fúteis. Convidei alguns dos meus melhores amigos (quase todos péssimos alunos como eu) para diversas funções em A Gazeta. Redação, arte, comercial, internet, pontos de distribuição e merchandising. As manchetes, do tipo “Professor é trancado para fora da sala e alunos quebram tudo”, ao lado de notas que revelavam quem estava ficando com quem, fizeram sucesso na cidade toda. Quase todos os alunos das escolas particulares eram leitores assíduos e, na medida do possível, exigentes. Passamos madrugadas em gráficas, não ganhamos um tostão sequer (o que sobrava das cotas de publicidade era investido em churrascos), mas o prazer de ver um recreio em silêncio, com estudantes e professores liberais entretidos na leitura do nosso trabalho, compensava qualquer esforço ou suor.

A Gazeta ganhou notoriedade, à essa altura já estava mais que óbvio que eu iria prestar vestibular para jornalismo. Ficamos famosos na cidade, fomos assunto de um programa da TV Globo local e, aos 17 anos, consegui algo que poucos repórteres já haviam conseguido: entrevistar um marciano. Arc, o alienígena que passou alguns anos pela Terra e às vezes visitava a redação de Veja, concedeu a mim uma entrevista exclusiva pela internet, que, na semana seguinte, foi publicada na íntegra na maior revista do Brasil.

Algumas vezes, a vida no interior não oferece aquilo que se quer para a carreira, então eu decidi fazer jornalismo em São Paulo. Um pouco antes da formatura, encerramos as atividades de A Gazeta, não sem melancolia. Consegui entrar na Cásper Líbero e, desde então, nos estágios e trabalhos de faculdade, conheci gente de tudo que é tipo. De saunas gays no Largo do Arouche a oficinas mecânicas em Cuiabá. Vi na faculdade muita coisa que já tinha reparado quando era um editor adolescente. A pressão dos anunciantes, o interesse político, a crítica, a correria do fechamento. Aprendi que curiosidade insaciável e uma necessidade quase obsessiva pela apuração são pré-requisitos de um repórter. Eu os tenho. E sei, há mais de 10 anos, que o jornalismo é o que quero para mim. "

Escrito em São Paulo, outubro de 2005
Três meses depois, Curso Abril.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

caixa

[cheia].

voz do povo

Duzentas pessoas, sendo 180 convidados e convidados dos convidados dos aquarianos. Um DJ que respeitou o pedido musical dos aniversariantes - especialmente na hora de avacalhar com o dance farofa dos 90 - um bar deveras agradável com garçons rápidos e gentis e uma banda que daqui a pouco nem precisa da pagação de pau dos amigos. "De 4 é melhor" encerrou o verão 08, temporada marcada por bermudas, amarelo, calor no Ano Novo, frio em janeiro, um Carnaval que não foi e a estréia do Cooler, Johnny Coller.

Se um perfil pode ser escrito sem se falar com o bijeto, um evento pode ser narrado em frases picadas, agarradas no ar empertigado de vodca e alegria.

"Po, o Milhouse é igualzinho o Milhouse mesmo, nunca tinha reparado." Lucas van Deursen

"O Fred é muito figura. Adorei a banda, de verdade" Anita Martins

"Muito bom, cara. Larga o jornalismo e vira promoter, faz só festa assim" Hugo Vidotto

"O Gabriel é um fofo" Fonte não identificável

"Gostei daquela menina, mas ela tá ficando com o grandão irmão do cara da banda, né?" Paulo, o Moço

"Não trouxe presente, mas vou apertar sua bunda" Heloísa Joly

"A gente vai se casar" Mário Sérgio Lima e Flávia Pierry

"Eu não sou vidaloca!" Flávia Martinelli

"Po, Flipe, mó legal vuáá" Mateus Valadares

"Ah, ela é gata. Tipo assim, sei lá" Thiago Lacaz

"Garoto, bagaceira é o que pega" Giovanni Tinti

"Me ajuda. Tem três meninas loucas aqui" Bruno Lozich

"Ela é aniversariante e não vai pagar!" Bruno Gabrielli, estressado

"O futebol francês é uma escola dura, apesar de não parecer." Bruno Gabrielli, bêbado

"Um homem sem chifres é um homem desprotegido" Fábio Peixoto, apó o hit Balada do Corno

"Essa música é pros homems brancos que não sabem dançar, como o Felipe" TiTi

"A vida começa aos 25." Alessandra Kalko

"Quantas você já pegou?" Daniele Doneda

"Você é um suceço" Meu espelho, às 6 horas

sábado, 9 de fevereiro de 2008

passarinho que não tinha * explodiu

A cafajestagem aumentava na medida que machucavam as desilusões amorosas, quanto mais chorava, mais mulher traçava, mas burrada fazia, mais pé levava até começar a pegá-las por atacado, afogando-se num mar de clitóris apaixonando-se cada vez mais cada vez pelas mais problemáticas e mesmo assim achava que estava feliz porque nasceu para ser um garanhão puro-sangue. Aos 70 anos, derreteu-se monumentalmente pelo parceiro de cricket.

Era 1996 e o Viagra sonho distante.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

lado B

A cidade deserta parece que foi abandonada (afinal, ela está deserta) pelo medo de uma turba ensandecida de guerreiros mongóis. Ou, num contexto atual, quenianos raivosos. Ou, num contexto atual e local, foliões. Mas na cidade que não tem Carnaval, a vida quase não é. O que é pior. Porque os poucos que sobram, aos quais eu, por livre e espontânea pressão da vida e do trabalho, me juntei, tentam, inutilmente, achar uma diversão que seja. Ou, nem isso, uma mísera conta para pagar. Shopping fechado, cinema, bancos, comércio idem. Até Quarta-Feira de Cinzas. A chuva (afinal, é o Carnaval que não foi) destruiu a fiação de telefone de uma das principais ruas, e por quatro dias os clientes da única agência do banco que foi brasileiro, foi holandês e hoje é espanhol ficaram impossibilitados até de tirar dinheiro. Somado à baixa popularidade de máquinas de débito nas poucas lojas e bares abertos, fiquei liso por todo o feriado. Sem dinheiro, sem pessoas na rua, sem sol no céu. Só vento, chuva de outono, saudade. Mais um pouco e uma multidão de cegos animalescos poderia dobrar a esquina e arrancar minhas roupas. Mas o Saramago deveria estar numa folia qualquer.

Meu primeiro Carnaval sóbrio da década me fez entender por que tem gente que não suporta a maior festa da Terra (desculpem os cariocas, mas é a maior festa da Terra desde que o homem é homem. E não tem nada a ver com Sapucaí). O nosso podre fica mais latente. E ainda mais evidente quando estamos aqui, do lado de cá, do lado dos que não começaram a beber sexta e se encontraram hoje de manhã no estado mais selvagem da natureza humana. Felizes.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

2.5

Desculpa aí, mas aqui não existe essa de inferno astral. Oquei, eu sou um sacerdote Ulça e, além dessa película amoral e charlatã que me mantém incólume a bobagens zodiacais, nasci numa madrugada quente de tempestade, 31 dias após o início do ano em que Xuxa estreou na Manchete, Reagan invadiu Granada e o Sepultura foi criado. Ou seja, o meu suposto inferno astral, como me explicaram certa vez, começaria exatamente na rebarba dos fogos de boas-vindas ao ano e seguiria ao longo do primeiro mês, aquele, o do verão. Na boa, aqui isso é impossível. E hoje, depois de 25 verões, à beira de meu 25º Carnaval, digo com segurança: todos os momentos em que eu rastejei na lama e fui beijado pelas larvas da mágoa em janeiro foram superados em instantes por uma aventura muito maior, gratificante, louvável - um suceço, enfim. 2007 foi assim, 2002 também, 1999 idem, assim como 1995, 2005 e, agora, 2008.




Que venha a vida. Baladão dia 9, show do Milhouse.