A cidade deserta parece que foi abandonada (afinal, ela está deserta) pelo medo de uma turba ensandecida de guerreiros mongóis. Ou, num contexto atual, quenianos raivosos. Ou, num contexto atual e local, foliões. Mas na cidade que não tem Carnaval, a vida quase não é. O que é pior. Porque os poucos que sobram, aos quais eu, por livre e espontânea pressão da vida e do trabalho, me juntei, tentam, inutilmente, achar uma diversão que seja. Ou, nem isso, uma mísera conta para pagar. Shopping fechado, cinema, bancos, comércio idem. Até Quarta-Feira de Cinzas. A chuva (afinal, é o Carnaval que não foi) destruiu a fiação de telefone de uma das principais ruas, e por quatro dias os clientes da única agência do banco que foi brasileiro, foi holandês e hoje é espanhol ficaram impossibilitados até de tirar dinheiro. Somado à baixa popularidade de máquinas de débito nas poucas lojas e bares abertos, fiquei liso por todo o feriado. Sem dinheiro, sem pessoas na rua, sem sol no céu. Só vento, chuva de outono, saudade. Mais um pouco e uma multidão de cegos animalescos poderia dobrar a esquina e arrancar minhas roupas. Mas o Saramago deveria estar numa folia qualquer.
Meu primeiro Carnaval sóbrio da década me fez entender por que tem gente que não suporta a maior festa da Terra (desculpem os cariocas, mas é a maior festa da Terra desde que o homem é homem. E não tem nada a ver com Sapucaí). O nosso podre fica mais latente. E ainda mais evidente quando estamos aqui, do lado de cá, do lado dos que não começaram a beber sexta e se encontraram hoje de manhã no estado mais selvagem da natureza humana. Felizes.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
lado B
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