segunda-feira, 31 de março de 2008

designers de suceço


Está no sangue. Mas, no caso, creio que não. Estes são holandeses, o gene é da cerveja melhor, de Gent e Bruxelles. Se alguém me pagar a árvore genealógica de DNA, posso confirmar...




Do Designmuseum.org:


Through cultural commissions and public sector projects - from stamps to urban identities - Armand Mevis (1963-) and Linda Van Deursen (1961-) of MEVIS + VAN DEURSEN have played a critical role in modernising Dutch graphic design and redefining it as a dynamic medium.

Both as designers and as teachers Armand Mevis and Linda van Deursen are influential figures in the dynamic Dutch graphic design scene. After meeting as students at the Gerrit Rietveld Academy in Amsterdam during the 1980s, they worked as interns at Total Design before opening their own studio in Amsterdam.

Operating from a small studio with just two assistants Mevis and van Deursen have combined cultural commissions from the Stedelijk Museum of Modern Art and the Netherlands Architecture Institute with projects for the fashion designers Viktor & Rolf. The catalogues they have created for artists such as Mechac Gaba, Carlos Amorales and Gabriel Orozco are projects in their own right rather than simply representations of the work.

Mevis, born in 1963, teaches at the Werkplaats Typographie in Arnhem while van Deursen, born in 1961, is head of the graphic design department at the Gerrit Rietveld Academy. They act as mentors to younger Dutch graphic designers such as Maureen Mooren and Daniel van der Velden, Jop van Bennekom and Experimental Jetset.

Designers, conheçam o casal aqui

Ah, e quem os descobriu foi a Fabi

amor nos tempos da dengue

* Sérgio Cabral já disse que a Constituição de 34 é de 32, que Churchill criou o Eixo democrático, que Getúlio se matou com um teco na cabeça. Agora, chamou a Dilma de presidente. E a bactéria transmissora da dengue, se prolifera pelo ar ou pega com abraço?

* Carla Bruni pôs o Reino Unido de joelhos, foi comparada até à princesa Diana (sendo que é muito mais bonita do que lady Di) e mostrou que Sarkozy - o que foi eleito prometendo dinheiro a imigrantes que vazassem da França - é o maior estadista da Europa, seguido de perto pelo bufão do Berlusconi.

Mas a mosca nessa sopa deliciosa a tiracolo do francês esquisito é o que Bruni revela ao jogar o cabelo para trás. L'Amour, que zoreba...



Porém, no fundo, quem liga? Mulheres assim, lindas e chiques sem se esforçar, estão cada vez mais raras. Deve ser o aquecimento global e o YouTube que vulgarizaram o mundo.

segunda-feira, 24 de março de 2008

digressão


A felicidade é uma sensação?

Coincidências vindas do céu sempre me chamaram a atenção, especialmente as meteorológicas. Hoje cedo, quando descia a rua dos Pinheiros e me embrenhava no mosaico de DVDs piratas, fumaça de ônibus, trombadas de pedestres e lojas de umbanda do largo da Batata, a caminho do trabalho, pensei há quanto tempo eu não me divertia numa chuva feliz. O tempo estava nublado, o calor de março, que parece ter o auge no verão a beira do fim, deu uma trégua, e eu senti falta de andar como criança debaixo de um toró bom, desses que a toalha, depois do banho, é quase abraço de mãe, não de um simples e óbvio pedaço de pano felpudo escrito algo como Karsten. Quase 12 horas depois, assisto ao trecho mais famoso de Cantando na Chuva, embalado e refrescado por uma versão cantada por Jamie Cullum – sujeito que à época do filme não era nem previsto, como lembrou o Sérgio.

E aqui estou tendo que responder essa pergunta. A felicidade é uma sensação? Não sei. Sei que é humanamente impossível não esboçar um mínimo sorriso com essa cena. Quem está feliz se vê dançando na calçada. Quem está feliz e é realista se vê dançando em meio a lixo boiando, sem ligar para a ameaça de enchente. Quem está feliz e sabe rir de si mesmo se vê dançando e imagina como ficar em pé com tantas estripulias e tanta tanta água. Difícil, então você cai, ri, levanta e, na primeira pirueta do guarda-chuva, espatifa um vaso. Quem está melancólico quer se inspirar e resgatar aquele velho sorriso automático, sem esforço. Quem vive dentro de uma concha e assiste a isso quer sair, pular sem medo. Quem tem a frieza de um atirador de elite, a rigidez do marechal prussiano, o equilíbrio laranja de um lama, certamente esboça uma sensaçãozinha, por mais que seja somente naquele instante mínimo e quase invisível que eles têm para ser só eles. Felicidade é sensação única porque cada um a manifesta e absorve de um jeito.

Estava chovendo meia hora atrás. Tinha cara de chuva feliz. Tinha consistência e volume certos – nada da garoa insossa que não molha mas deixa resfriado, muito menos de uma tromba d’água vertical. A chuva parou, voltei para a sala de aula. No caminho para casa, outra coincidência: o iPod cantarola Raul Seixas: “Eu perdi o meu medo, meu medo, meu medo da chuva”.

diálogo em 10 falas

– Eu demorei para entender que a Glenda me ligou domingo à tarde para eu “pôr imediatamente no Faustão e ver aquele pagodeiro, o Neto” – comentou a Bárbara no tom a que todos já estávamos acostumados: aquele que trazia embutido nos seus muitos decibéis “escutem-me, estou falando!”
– Neto?
– É a Glenda, né, Felipe? Ela queria falar Belo, o que estava preso. Mas na verdade era o Rodriguinho.
– WOW. O pagode não cansa de nos surpreender. E como ele está?
– Bicho, o cara fez uma tatuagem de colar – respondeu Gabriel com seu sotaque raro de capixaba naquele restaurante barulhento como obra de metrô sobre o solo.
– Como assim “de colar”? – engasguei com a massa recheada com muito frango e pouco damasco ao perguntar. – Ele tatuou um cordão no pescoço!?
– Não. Rapaz, uma tatuagem de colar, tipo henna, sacou?
– ...
– Rá! Nossa, essa foi demais. Estou me superando em piadas infames.
– Ô. Ri tanto dessa quanto daquela de ontem, quando você disse que estava “morrendo de rim” – desdenhou a Bárbara, que parecia alheia à conversa – algo quase impossível.

A Glenda, que deu início à conversa e desde então olhava da comida para o teto, do teto para o pátio, não agüentou os olhares que esperavam algum comentário, apontou para a própria cabeça e disparou:
– Ah, vocês são muito sem graça. Meu mundo é bem mais divertido!

sexta-feira, 21 de março de 2008

quando era um lorde

































Por Paulo Setubal van Deursen, o Moço
São Paulo, 2003

quinta-feira, 20 de março de 2008

no princípio era o S

Eu já fui um fraco, assim como você. Mas isso já faz tempo, muito tempo. Me veio à cabeça agora o episódio em que comecei a forjar meu estilo de vida. Ainda estava na escola. Uma professora que em outros idos fora deveras bonita - algo como uma violeta de ontem - tentava nos ensinar por que algumas palavras em Português têm dois Ss ou dois Rs. O exemplo que a dona Etimológica usou foi sucesso.

Alguns anos mais tarde percebi que essa palavra era semanticamente uma fraude. Mas isso era a época rebelde entre o primeiro beijo e o milésimo. Ela não era um lapso da língua, apenas a sua característica atrelada aos Ss imbuía no mundo dos homens algo indissolúvel. Afinal, essa história de precisar de duas letras juntas, repetidas, para formar um mesmo som não é questão de amizade, fraternidade, altruísmo ou compaixão. Isso se chama insegurança. E é por isso que hoje existem estas duas palavras, homônimas, porém não-sinônimas: sucesso e suceço.

Deixei o sucesso àqueles inseguros que se perguntam onde estão na vida, aos infelizes que esvaziam os bolsos em um divã em troca de frases montadas para acalentar sua existência pelos próximos 15 dias, aos tolos que crêem que prestar serviço à comunidade serve, no íntimo, como um mea culpa social. Aos jovens que buscam incessantemente preencher currículos para aumentar carteiras. E encolhê-las, sem saber por que motivo, ao perder o tempo único que têm na vida se lamuriando: "oh, céus, sou tão infeliz! Sou bem-sucedida, tenho carro (!), meus remédios me mantém inteirona (!!), por que minha vida é um saco?" Esse é o tipo de gente que se empanturra de doce e depois se mata na academia...

Eu não sou assim. Sei onde piso, enfrento problemas, assumo erros, aguento esperar. Ter um bom emprego, ser cercado de amigos, ler, estudar, refinar o gosto, tudo isso é uma evolução básica e linear a que a maioria têm acesso. Estar seguro de si, saber que vai dar tudo certo sempre, é um exercício constante.

De vez em quando eu tomo chá com dona Etimológica. Quando o fantasma tremulante da insegurança ameaça me assustar, basta um malte e um álbum de fotos para eu rir da cara dele. Cada pequeno sucesso da vida é o que compõe a felicidade. É por isso que digo: eu sou um suceço.

Rio de Janeiro, abril 2005

* * *
Você é feliz? Fale comigo

* * *
Tanto que inspirei um novo blogue, feito por gente talentosa e segura, galera Ulça - sem essa de ser do bem porque isso é muito mala. O melhor do pior e o pior do melhor do que rola nos virais 2.0, a evolução da piada de imeio!

quarta-feira, 19 de março de 2008

pitacos

- Angela Merkel diz em Israel que o Holocausto enche a Alemanha de vergonha. Boa. Agora, quando João Paulo II pediu perdão pela Inquisição, ele foi repudiado. Amém?

- Um garoto de 12 dirigir virou escândalo. Em Resende, terra de ninguém, e em várias outras localidades do Brasilzão isso era quase normal. Eu aprendi a dirigir com 11 anos. E dirigir, assim como os alunos da Unicsul, a gente aprende na prática.

- Moby é tão politicamente correto que na página de cadastro em que ele disponibiza 80 músicas gratuitamente para ser usadas em filmes independentes o território-treta da Abkházia, na Geórgia, é um país soberano. Tem revista grande que chamou ele de chato. Se o Huck defendesse a independência da Abkházia e da Ossétia do Sul, ele seria chato. Mas o DJ-produtor-carequinha-vegan, não.

guia do estudante

O professor de biologia perguntou na classe:

- Rapaziada, o que vocês querem ser quando tiverem impostos?
- Astronauta - respondi, sem titubear e, claro, sem nunca ter ouvido falar de Marcos Pontes.

Não vejo mais tanta graça assim no céu, no sentido físico, astronômico etcetera e tal. Se o Marquinho Paluma, com aquela cara de Jamiroquai só dele, me questionasse hoje, 9 anos depois e eu já ter digerido e regurgitado cursinho, vestibulares, listas de espera, faculdade, exames, pro-ces-sos se-le-ti-vos, responderia:
- Eu queria ser ombudsman do mundo.

terça-feira, 18 de março de 2008

sonho bizarro do dia

O forte vinagre caseiro espirrou direto no olho esquerdo dele, provocando lágrimas e risadas nada contraditórias. Pouco depois, sem chave, celular, música, dinheiro ou livro, ficou trancado quatro horas para fora de casa. A primeira vez que isso acontece sem que ele estivesse sob efeito do álcool - e, por isso mesmo, não teve a menor graça. Ou dormia em sua praça privada e exclusiva, sob uma improvável palmeira e ao tão-improvável-quanto relento de março, ou se estirava no granito preto e gélido do corredor, para turbinar a febre iminente.

Tédio, escuridão e silêncio são ideais para levar seus pensamentos ao círculo mais profundo e mesquinho da imaginação. O medo alimenta a insegurança que pulsa a inveja que corrói o amor que perde aderência, cai, despenca e desaparece no eco. O vazio abraça como gelo no dente.

Abre os olhos.

Dorme. Um concurso organizado por um museu da cidade propõe novas representações gráficas para os números, tendo como base conceitos filosóficos, não aritméticos. Ou seja, nada de um sol, dois irmãos, três profetas, quatro estações, cinco dedos, seis amigos, sete pecados. Muito menos one little two litlle three little indians. Artistas criaram pastas, maçarocas, amontoados coloridos e pedaços de comida antropomórficos para a nova tabela. A descabida medida de eliminar a grande herança arábica ganhou o respeito dos fariseus e lordes, mas Esqueleto comandou a insurreição contra a mudança. Cabia ao herdeiro de He-Man, conhecido como He-Man 3.0, enfrentar o vilão reacionário. Não houve luta, apesar de o jovem guerreiro mostrar confiança e prepotência. Eles trocaram elogios e conversaram nostalgicamente sobre o auge do príncipe Adam.

Um dia antes, Mateus era o único ser humano sentado no único bar de uma metrópole bombardeada e deserta, cujo único movimento à vista era a água suja escorrendo lentamente em direção ao bueiro.

segunda-feira, 17 de março de 2008

chove

baratas chapadas são menos estúpidas do que pessoas com guarda-chuvas.

domingo, 16 de março de 2008

[vazia]

eu preferia ter perdido tudo
para não ter que ficar reparando
as pequenas perdas.

Carpinejar (não é um verbo)

sexta-feira, 14 de março de 2008

a melhor webdesigner da região de por aqui

Renata Aguiar, essa garota é muito boa. Páreo duro com Fabiane Zambon e Gabriel Gianordoli. Ela que fez a maioria das animações da série das Sete Maravilhas do Mundo antigo, que, no papel, ganhou o Esso.

Na rede ganhou o Eço. Também porque o editor é um suceço, mas o mérito é dela.

Acessem e contratem-na. Aqui!












Se estiver com tempo livre pode clicar aqui também.

slow food não vai à guerra

as moscas e o medo sempre ganham no final. Clica, mané!
Para ver a guerra total, clica no voltar, no fim da página

quinta-feira, 13 de março de 2008

eu não nasci para essa cidade

algo definitivamente interessante na cidade é a fraternidade dos Resendeses, são pessoas tolerantes a qualquer outra religião, hospedando refugiados islâmicos do Iraque em suas celas confortáveis com televisões de LCD (...) A prisão dos islâmicos é defendida pelos militares como uma política de proteção cultural religiosa

o Supermercado Máximo e o Bob's, que são pontos de encontros de todas as gerações residentes lá.

Após 300 anos, as grandes redes de fast-food estão em atividade na cidade desde 2080, sendo isso um grande exemplo de desenvolvimento econômico.

As ruas para trafegar são as melhores em se tratando de recapeamento.

Quando há sinal de guarda municipal, pode apostar que o fluxo anda!

Os buracos de vez em quando aparecem.

Diz a lenda que os buracos estão na calçada esperando sua vez para entrar na rua.

A fabulosa Universidade Estácio de Sá possui um belo campus na cidade de Resende, onde a paciência de seus alunos são testadas por estudantes selvagens e canibais do Espetacular e tradiconal colégio Dom Bosco. As salas de aula possuem cachoeiras que se originam do teto, todavia, fucnionam apenas quando chove. As águas que partem das cachoeiras citadas acima, proporcionam um belo espetáculo ao descerem as escadaria do prédio do campus.

A cidade conta ainda com a inigualável presença de uma espécie rara em todo mundo: A CADETINA (Termo usado na região para definir mulheres que vagam nas proximidades da AMAN como a Olavo Bilac e Bob's para esperarem as suas presas os cadetes).

Um hábito muito comum dessa espécie é somente olharem, namorarem, flertarem, enfim darem exclusivamente para cadetes, visando o futuro salário dos mesmos. Resumindo as cadetinas são uma versão especificamente resendense de mercenárias ou cadetenárias??? O interessante (e particularmente engraçado) é o fim posterior das cadetinas, pois os cadetes dão uns pegas nelas por 4 anos e depois quando vão se formar oficiais dão um fora nelas (pé na bunda) e vão para sua cidade natal casarem-se com suas namoradas.

Com certeza dentre as milhares de atrações turísticas de Resende como o parque das aguás (que por sinal quase não tem água), e a exapicor, que é a unica coisa a se fazer em resende ou hellsende no período de um ano. Isso mesmo, atenção!!! Não perca a exapicor senão só ano que vem pra sair novamente de casa com um destino certo) as cadetinas com certeza estão incluídas na vasta lista de atrações turísticas da cidade de resende.

Deve-se ressaltar neste tópico o explendor e magnifico turismo sexual desta bela cidade, a partir das 20:00 hs é possível encontrar em cada esquina travestis de ótima qualidades, são todos tremendos tri-pés. Esses travestis são exclusivos da cidade só há por aqui.

Resende, na Desciclopédia

verde onde pode ser

Quanto consome uma escada rolante? A mesma energia no sábado à noite em semana de Natal do que na segunda de manhã com um sol escaldante lá fora. Ou seja, elas nunca param, estão à disposição do horário de funcionamento de shoppings, lojas de conveniência, megastores. Não importa se há 250 pessoas por minuto utilizando-as ou apenas uma senhora franzina e seu neto quase gordo trocando os brinquedos que ele não gostou.

Então por que não se fala em escada rolante ecológica, já que desde que sustentabilidade virou moda todo mundo quer tirar proveito disso? Uma escada rolante que funciona como porta automática. Ela é acionada quando necessário. No resto do tempo, fica parada, em vez de completar infinitas voltas ao redor dela mesma sem carregar viv'alma. Andando atrás do próprio rabo inexistente, como um cachorro burro. O problema é que esse cachorro burro não funciona à base de ração.

segunda-feira, 10 de março de 2008

mulher melancia com a mão na massa


Agora com Analytics, só pra imitar o Fred e ganhar alguns acessos do Google. Você mesmo, mané, espera a mina desproporcional do Créu sair na VIP. Ou então lê essas demências aqui. Uhu!

resenhas de uma frase só

Onde os Fracos Não Têm Vez mostra como o Beiçola pode fazer seu coração sufocar a goela - mas esquece a hora de terminar.


Sangue Negro é denso como piche e macho como poeira de saloon - mas também esquece a hora de terminar.

quinta-feira, 6 de março de 2008

god moving over the face of the world

areia fina, branca e fria passeando por entre os dedos do pé ainda mais alvos. uma briga eterna entre pedras e ondas, ouriços e espuma. céu cor de fim. moletom como camisa de força, óculos escuros para se esconder. o último abraço que não houve e Marcos se jogou no vento infinito, e infinito se tornou ao se encerrar ali.

ferro

Depois de acompanhar oito playboys até 1 da madrugada correndo de kart e dormir seis horas para em enfurnar no Google em livros do IBGE para descobrir quantos escravos foram de fato libertados em 1888 (e, sim, quer você queira ou não, a princesa feia e gorda Isabel se empenhou no bagulho. Nas bancas em abril) tenho que lidar com o telefone importunando às 9:
- Alô.
- Por favor o Felipe?
- Eu.
- Fê-e-ê
(putaqueopariu)
Adivinha quem é?
- Não sei.
- Não sabe mesmo?
- Não e estou ocupado.
- É a Cris, bem
- Cris?
- Da academia Fatless!
- Correto.
- E aí, você nos abandonou, é?
- Ah, ando trabalhando muito
- Mas você vem, né?
- Sim, claro. Ainda essa semana.
- Então estamos te esperando
- Oquei.
- Um beijo, lindo
- Até.

Não voltarei lá. Mentir é ótimo para as pessoas pararem de encher o saco.

el silencio

o vazio do silêncio que preenche o ar,
sufoca lágrimas e soluços que
secam e viram fósseis
de um tempo em que
felicidade era simples

e boa e linda e plena
e[]satisfatoriamente

tipo aquele café-da-manhã
na cama, [suspiro não-doce]
hoje plenamente de silêncio


São Paulo, agosto de 2007

terça-feira, 4 de março de 2008

sonhos bizarros dos dias

Cara, tá fogo. Gente de Resende, assassinato à queima-roupa, perseguições, Princesa Isabel, editores, ensaio de fotos, Fernanda Lima, ex-namorada, amigos da Abril, tio da Itália, casamento, batalhas (literais!), gente de São Paulo, Kombi, Hogwarts de García Marquez. Mas não vou contar aqui, não. Se alguém ler, pague-me uma cerveja. Preciso

[ ]

“Florentino Ariza, endurecido de tanto sofrer, assistia aos preparativos da viagem como um morto teria assistido às disposições tomadas para suas exéquias. Não disse a ninguém que ia embora, não se despediu de ninguém, no mesmo hermetismo férreo que só à mãe revelou o segredo de sua paixão reprimida, mas na véspera da viagem cometeu consciente uma loucura do coração que bem poderia ter-lhe custado a vida. Vestiu à meia-noite seu traje de domingo e tocou em solo debaixo do balcão de Fermina Daza a valsa de amor que compusera para ela, que só eles dois conheciam, e que foi durante três anos o emblema de sua cumplicidade contrariada. Tocou-a murmurando a letra, o violino banhado em lágrimas, e com uma inspiração tão intensa que aos primeiros compassos começaram a ladrar os cachorros da rua, e em seguida os da cidade, mas depois se foram calando pouco a pouco graças ao feitiço da música, e a valsa terminou em meio a um silêncio sobrenatural. O balcão não se abriu, nem ninguém assomou à rua, nem mesmo o guarda-noturno que quase sempre acudia com sua lanterna para ver se colhia algum benefício com as sobras das serenatas. O ato foi uma invocação de alívio para Florentino Ariza, pois quando guardou o violino na caixa e se afastou pelas ruas mortas sem olhar para trás já não achava que ia embora na manhã seguinte, e sim que tinha ido embora há muitos anos com a disposição inabalável de não voltar nunca mais.”

sábado, 1 de março de 2008

dramáticos

"Começou com a simplicidade da rotina. O doutor Juvenal Urbino tinha voltado ao quarto, nos tempos em que ainda tomava banho sem ajuda, e começou a se vestir sem acender a luz. Ela estava como sempre a essa hora em seu morno estado fetal, os olhos fechados, a respiração tênue, e aquele braço de dança sagrada sobre a cabeça. Mas estava meio desperta, como sempre, e ele estava sabendo. Depois de longos rumores de linhos engomados na escuridão, o doutor Urbino falou consigo mesmo:
– Faz uma semana que estou tomando banho sem sabonete – disse.

Então ela acabou de acordar, lembrou, e rolou de raiva contra o mundo, porque na verdade tinha esquecido de substituir o sabonete do banheiro. Tinha notado a falta três dia antes, quando já estava debaixo do chuveiro, e pensou em botar o sabonete depois, mas esqueceu o assunto até o dia seguinte. No terceiro dia tinha acontecido o mesmo. Para dizer a verdade, não tinha se passado uma semana, como ele dizia para lhe agravar a culpa, e sim três dias imperdoáveis, e a fúria de ser apanhada em falta acabou de enraivecê-la. Como de costume, se defendeu atacando.
– Pois tenho tomado banho todo santo dia – gritou fora de si – e sempre tem havido sabonete.

Embora ele conhecesse de sobra seus métodos de guerra, desta vez não pôde suportá-los. Foi morar a um pretexto profissional nos quartos de internos do Hospital da Misericórdia, e só aparecia em casa para trocar de roupa ao entardecer antes das consultas a domicílio. Ela ia para a cozinha quando o ouvia chegar, fingindo qualquer afazer, e ali permanecia até escutar vindos da rua os passos dos cavalos do carro. Cada vez que procuraram resolvera discórdia nos três meses seguintes, só conseguiam atiçá-la. Ele não dispunha a voltar enquanto ela não admitisse que não havia sabonete no banheiro, e ela não se dispunha a recebê-lo enquanto ele não reconhecesse ter mentido de propósito para atormentá-la.

É claro que o incidente lhes deu a oportunidade de evocar outros arrufos minúsculos de outras tantas manhãs perturbadas. Uns ressentimentos mexeram em outros, reabriram cicatrizes antigas, transformaram-nas em feridas novas, e ambos se assustaram com a comprovação desoladora de que em tantos anos de luta conjugal não tinham feito mais do que pastorear rancores. Ele chegou a propor que se submetessem juntos a uma confissão aberta, com o senhor arcebispo se fosse preciso, para que Deus decidisse como árbitro final se havia ou não sabonete na saboneteira do banheiro. Então ela, que tão boas estribeiras tinha, perdeu-se num grito histórico:
– Que vá à merda o senhor arcebispo!

O impropério abalou os alicerces da cidade, deu origem a cochichos que não foi fácil desmentir, e ficou incorporado à fala popular com ares de teatro de revista: “Que vá à merda o senhor arcebispo!” Consciente de que havia ultrapassados os limites, ela se antecipou à reação que esperava do esposo, e ameaçou mudar-se para a antiga casa do pai, que continuava sua embora estivesse alugada para escritórios do serviço público. Não era uma bravata: queria ir embora de verdade, sem se importar com o escândalo social, e o marido percebeu a tempo. Não teve coragem para enfrentar seus próprios preconceitos: cedeu. Não no sentido de admitir que havia sabonete no banheiro, pois tria sido um insulto à verdade, e sim no de continuarem morando na mesma casa, mas em quartos separados e sem se dirigirem a palavra. Assim faziam as refeições, contornando a situação com tanta habilidade que se mandavam recados pelos filhos de um ao outro lado da mesa sem que estes percebessem que os pais não se falavam.

Como no escritório não havia banheiro, a fórmula resolveu o conflito dos ruídos matinais, porque ele tomava banho depois de preparar a aula e adotava precauções reais para não acordar a esposa. Muitas vezes coincidiam e se alternavam para escovar os dentes antes de dormir. Ao fim de quatro meses, ele se deitou para ler na cama matrimonial enquanto ela não saía do banho, e pegou no sono. Ela se deitou ao seu lado sem quaisquer precauções, para que ele acordasse e fosse embora. Ele acordou pela metade, com efeito, mas em vez de se levantar apagou a lâmpada da cabeceira e se acomodou no travesseiro. Ela o sacudiu pelo ombro, para lhe lembrar de que devia ir para o escritório, mas ele se sentia tão bem outra vez na cama de penas dos bisavós que preferiu capitular.
– Me deixa ficar aqui – disse. – Tinha sabonete, sim."