sábado, 30 de maio de 2009

você passa por um homem deitado, desmaiado, morto, vá saber, com uns tantos de pingos de sangue o cercando. você olha. há pessoas ao redor dele, falando. você se digna a retardar o passo, tirar um dos fones, ver o que está acontecendo. você pensa "ah, as pessoas estão cuidando do cara", "bom, é um mendigo, mendigos fazem isso"e "o que eu posso fazer?"tudo junto e segue seu caminho.

25 passos depois você pensa que é mais um daqueles sujeitos que fazem a sua cidade ter uma fama fria, egoísta e triste. você tenta fazer algo. liga para o samu. explica a situação. ouve da mulher que não, não há nenhum chamado para a esquina citada. Tá, mas e daí? E daí que se ela não souber exatamente o que está acontecendo, ela não pode mandar uma ambulância. você não é médico, não é enfermeiro, não é paramédico. então você reza, quase impotente, para que alguém cuide daquela criatura largada.

você fez alguma coisa.

sempre dá para fazer alguma coisa.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

o primeiro filme alugado foi 3 Enterros.
Já nos morremos 3 vezes.
já relembramos 3 noites
falta vivermos 3 vidas.



aqui, um documentário dos 70's com "Emotion 98,6", do Mylo. Ali, "walk into the sun".

terça-feira, 26 de maio de 2009

quando eu morrer...

não sei se terei gente suficiente para carregar as alças do caixão.
Então melhor ser cremado, que é ecologicamente mais correto.

Não, os Wright mortos no acidente aéreo em Trancoso não são parentes. Mas obrigado a quem demonstrou preocupação.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

atualizado

De hoje a 3 de abril, a firma vai manter uma caixa de doação às vítimas das chuvas no Nordeste e no Norte.

amém.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

hipocrisis brasilis

eu falei com 3 pessoas do RH da firma que, pelo o que me contaram, foram responsáveis pela bela campanha de arrecadação de alimentos e roupas para as vítimas das enchentes de Santa Catarina ano passado. Coisa bonita de se ver, todo mundo esvaziando os armários e enchendo caixas e caixas, que entupiam e vazavam de mantimentos pelo hall do prédio.

Mas aí, desde maio, no Nordeste e no Norte, enchentes já deixaram oito estados em calamidade pública e desalojaram 200 mil pessoas. Dezenas de mortos. Uma catástrofe ainda maior. Não vi nenhuma campanha na rua. Aí resolvi falar com essas 3 pessoas, para saber se a firma faria algo. Tive a mesma resposta das três. Silêncio.

Beleza, já esperava. Nordestino tem mais é que se foder. Então, procurei a paróquia do bairro, que também organizou doações e entupiu caixas e caixas. Pelo menos deles eu tive uma resposta. Não haverá caixas, pois as doações estão sendo centralizadas por uma instituição, e devem ser feitas em dinheiro.

Até para a galera de New Orleans tinha doação. Não tem desculpa pra não mandar um caminhão de roupa pro Maranhão. Não, não, não.

É uma merda. Mas dá para fazer alguma coisa. A Cáritas, que até onde sei é séria, assumiu a parada. Mais detalhes aqui.

caixa vazia dói.

consuma

Talvez você não devesse comprar

Uma compilação de coisas inúteis já lançadas. Vi no blog do chefe

domingo, 10 de maio de 2009

patetada

"filme" 1 - um casal num conversível para no sinal, a trilha sonora é um baixo jazzístico brega de voz rouca. um carro para ao lado e, do nada, o motorista do conversível percebe que sua mulher o trocou pelo motorista misterioso do vigoroso veículo negro. E se despede, assim.

"filme"2 - roda de samba com ator global "tocando"famosas sandálias de borracha brasileiras. Riponga mala aparece, chama a atenção da crise global, da preocupação geral, da tensão anormal e outra rima, quando a turma a ignora e volta pro sambão, brindando o marasmo e a alienação.

fazia tempo que não via algo tão edificante e que refletisse tão bem a gente. Tão bonito quanto a ausência total, o silêncio absoluto de campanhas de ajuda às vítimas das enchentes lááá no Nordeste. Pra quê, né, Cauã? Pra quê? Tragédia lá longe não é assim de importar tanto, eles já estão acostumados. Além do mais, não atrapalha o caminho pra Jurerê Internacional.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Nerudão e o pé, Neruda e o pão

Quando não posso contemplar
o teu rosto,
Contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
Teus pequenos pés duros.

Eu sei que te sustentam
E que teu doce peso
Sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
A duplicada púrpura
Dos teus mamilos,
A caixa dos teus olhos
Que há pouco levantaram voo,
A larga boca de fruta
Tua rubra cabeleira,
Pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
É só porque andaram
Sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.