quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

no cinema

439 - cólica menstrual
440 - cólica renal (e no dia de Natal?)
441 - ter que abrir a carteira de novo pra mostrar a carteirinha e provar que é estudante na hora de entrar no cinema (mesmo a carteirinha sendo falsificada)
442 - cadeira muito na frente no cinema
443 - cadeira muito atrás no cinema
444 - um boneco de Olinda sentado na sua frente no cinema
445 - um casal adolescente se bulinando do seu lado no cinema
446 - um grupo de meninas rindo à toa no cinema
447 - pessoas que falam no volume "normal" de voz durante o filme (sim, tem que cochichar, no máximo)
448 - pessoas que fazem comentários óbvios ou reações estúpidas e exageradas ao longo do filme
449 - Argh! Gente que dialoga com o filme
450 - fulano que deixa o lixo na poltrona ao fim da sessão
451 - quem mantém a mastigação barulhenta num momento de silêncio do filme
454 - cinema de shopping pra ver um "filme de autor com considerável apelo comercial"
455 - cinema de rua pra ver "arrasa-quarteirão com toque especial do diretor"
456 - público de cinema de shopping, sempre
457 - público de cinema de rua, nas estreias
458 - corujões de cinema de rua
459 - cinéfilos
460 - fãs de cinema marginal
461 - quem acha que cinema pornô é algo menor cultura e industrialmente que, sei lá, Cinema Novo
462 - cinema de interior nas férias passando, invariavelmente, filme da Xuxa e do Didi
463 - preço de pipoca em cinema
464 - preço de ingresso inteiro na capital

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

inglórios

Era um mercado de pulgas, uma rinha de galos, um cinema pornô redundantemente decadente, um clube de boxe tailandês, uma taverna costeira de estivadores ou uma reunião de contrabandistas estereotipicamente tarantinados. Tudo escuro, empoeirado, iluminado apenas com algumas lâmpadas amarelas. De repente, uma batida.

Uma batida não, a batida, pois quem chegou foi o Brad Pitt e seus bastardos inglórios. "Ih, lá vêm os malas. Espero que sejam mais convincentes que no filme", resmunga um exigente cinéfilo ao lado, vendedor de cabeçotes de vídeo-cassete. Você meio que concorda, mas pensa que as atuações são boas, o problema é o roteiro.

Brad Pitt cala a sala com o toque-toque das botas no chão úmido. Começa a vasculhar com os olhos, ao mesmo tempo em que inicia uma perturbadora tortura psicológica acariciando rostos com seu bastão. Percebe-se que aqueles piratas mal encarados estão é com medo.

De repente ele dá meia-volta e caminha a passos largos em direção a uma mulher pequena e feia, tipo a vilã dos Goonies, com rugas que parecem acidentes geográficos cenozóicos. Ela tenta esconder uma grande sacola atrás das costas, mas é inútil. É afastada como algo sem valor, e do saco cai tudo que é tipo de quinquilharia.

Um discurso para fazer suar frio. Um homem enorme, peludo, 50 e tantos anos, se levanta. Assume a culpa. Acha que vai se dar bem. Brad Pitt acaricia seu rosto com o taco, mas o atira no chão. O gordão tem certeza que vai se dar bem.

Você assiste a tudo ansioso. Brad Pitt se vira e com a mesma boca torta que tem feito em todos seus últimos fimes pergunta: "May I...?"

Não havia legendas.

Ele aponta sua bengala, ao que você cortesmente a oferece. "Seria um prazer, senhor."

Prepara a bengala, olha para o gordão e desfere, sem cerimônia, um único e fatal golpe. Você percebe que poucos tiveram culhões para olhar a cena. A cabeça do homem se transforma em um grande feijão. Ou um rim inchado.

Delicadamente, Brad Pitt limpa a sua bengala, removendo os vestígios de sangue, ossos e miolos. Um de seus asseclas, que provavelmente adora a palavra 'assecla', espeta com um palitão um naco do cérebro do homem, desabado morto no meio do salão, e o retira dali.

E aí você percebe que o homem com a cabeça esmagada no chão era o Brad Pitt.

A primeira regra do Clube da Luta é "jamais fale sobre o Clube da Luta"

sossegados

Reunidos em um corredor, funcionários da revista masculina de prestígio mostram a última edição a você, que a folheia surpreso. O anão, sempre aquele anão zombeteiro e folgado da firma, passa e arranca a revista da sua mão. "Dessa vez não, filhodaputa!"

Agarra, aperta e pressiona a cabeça debaixo do tampo da carteira que havia ao lado. Soca, soca, soca e esmurra até a paree de 10 centímetros de madeirite se deformar com o formato de seus dedos, já suados, sangrados e inchados.

"Hihihihi. Otário"
"É, o cara gosta de zoar com sua cara mesmo" - dizem antigos colegas que por lá passavam.

O resto de força que ainda havia é multiplicado pela raiva irracional, pela insana vontade de ver sangue espirrar. O punho esquerdo quase se fecha nele mesmo tamanha a gana de esmurrar. Bater por bater. Não importava mais o motivo.

Meia-dúzia de golpes ligeiros e desesperados depois, a massa disforme em que se transformou a cabeça do anão é posta de lado. Revista recuperada e uma única preocupação:

"A câmera me pegou. Devo levar multa ou só uma repreensão? Saco."