Era um mercado de pulgas, uma rinha de galos, um cinema pornô redundantemente decadente, um clube de boxe tailandês, uma taverna costeira de estivadores ou uma reunião de contrabandistas estereotipicamente tarantinados. Tudo escuro, empoeirado, iluminado apenas com algumas lâmpadas amarelas. De repente, uma batida.
Uma batida não, a batida, pois quem chegou foi o Brad Pitt e seus bastardos inglórios. "Ih, lá vêm os malas. Espero que sejam mais convincentes que no filme", resmunga um exigente cinéfilo ao lado, vendedor de cabeçotes de vídeo-cassete. Você meio que concorda, mas pensa que as atuações são boas, o problema é o roteiro.
Brad Pitt cala a sala com o toque-toque das botas no chão úmido. Começa a vasculhar com os olhos, ao mesmo tempo em que inicia uma perturbadora tortura psicológica acariciando rostos com seu bastão. Percebe-se que aqueles piratas mal encarados estão é com medo.
De repente ele dá meia-volta e caminha a passos largos em direção a uma mulher pequena e feia, tipo a vilã dos Goonies, com rugas que parecem acidentes geográficos cenozóicos. Ela tenta esconder uma grande sacola atrás das costas, mas é inútil. É afastada como algo sem valor, e do saco cai tudo que é tipo de quinquilharia.
Um discurso para fazer suar frio. Um homem enorme, peludo, 50 e tantos anos, se levanta. Assume a culpa. Acha que vai se dar bem. Brad Pitt acaricia seu rosto com o taco, mas o atira no chão. O gordão tem certeza que vai se dar bem.
Você assiste a tudo ansioso. Brad Pitt se vira e com a mesma boca torta que tem feito em todos seus últimos fimes pergunta: "May I...?"
Não havia legendas.
Ele aponta sua bengala, ao que você cortesmente a oferece. "Seria um prazer, senhor."
Prepara a bengala, olha para o gordão e desfere, sem cerimônia, um único e fatal golpe. Você percebe que poucos tiveram culhões para olhar a cena. A cabeça do homem se transforma em um grande feijão. Ou um rim inchado.
Delicadamente, Brad Pitt limpa a sua bengala, removendo os vestígios de sangue, ossos e miolos. Um de seus asseclas, que provavelmente adora a palavra 'assecla', espeta com um palitão um naco do cérebro do homem, desabado morto no meio do salão, e o retira dali.
E aí você percebe que o homem com a cabeça esmagada no chão era o Brad Pitt.
A primeira regra do Clube da Luta é "jamais fale sobre o Clube da Luta"
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
inglórios
Tegues:
sonhos bizarros
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