"Que diabos este retardado está fazendo com o paralelepípedo?
- Não sei, mas o cara é forte, o bagulho é do tamanho de um baú!
- Porra, ele vai jogar na gente!
POW (minhas onomatopéias são infantis até em sonhos tarantinescos. Foda-se, sou uma criança feliz), o cara atirou a pedra no capô do carro. Um estrondo, vidros trincados, arranhões, arrasou a nossa caixa-preta. Por quê? Sei lá, estávamos parando o carro, rumo à tradicional voltinha no centro de São Sebastião, depois da pizza de domingo à noite.
Pegamos os porretes e fomos para cima do cretino. Era pra ser um susto mas alguém errou a mão. Matamos o coitado.
- Vamos assumir ou vamos nos fazer de playboys cuzões?
- Somos playboys legais. Vamos assumir. Foi defesa, carro é mais importante que muita coisa neste país. Que esse otário aí, com certeza é.
- Então vamos nessa, duas semaninhas no xilindró.
- Uhu!
Desprovidos de culpa ou remorso, entramos em uma rua de paralelepípedo em que, de repente, as casas coloridas colonias brasileiras viraram cabanas enxaimel da Floresta Negra. Algum mala começou a discutir Lutero, tive que intrometer:
- De 95 em 95 teses a gente chegará na auto-religião e o individualismo virará dogma.
- É?
- É.
- Mamãe vai bem?
Mas o padre ciclope ouviu o que eu disse e se virou para falar. Na verdade, só vi que ele era um ciclope quando ele se virou, é claro. Um grande olho, na boca, não na testa. Não sei de onde saía sua voz, mas ele disse, em tons monocórdicos:
- Sim, você está certo, meu filho. Mas veja, O Segredo - The Secret é muito mais que ligar um sinal positivo na sua mente e esperar que tudo venha até você. O Segredo - The Secret é a fonte e, você, o torneiro mecânico.
- Correto.
A vila alemã se transformou em um Tetris 3D com linguagem meio Bomberman, meio Mario. Bichinhos fofos caím no abismo e voltavam mais felizes. Eu fiquei amigo deles.
E ficava olhando para ela. Ela que às vezes era ela, mas me confundia e se transformava em outra. E a outra era ela e eu não tinha as duas. Não sabia mais o que queria.
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
Sonhos bizarros (da semana) III
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Um comentário:
"E ficava olhando para ela. Ela que às vezes era ela, mas me confundia e se transformava em outra. E a outra era ela e eu não tinha as duas. Não sabia mais o que queria."
Até parece que entendo isso. Me acontece com tantas coisinhas da vida e com raros de eles. Daí penso, logo resisto. Eles viram pronomes ocultos e as coisas sujeitinhas do mero acaso. Disfarço bem, ainda que às vezes coisas e eles apareçam em meus sonhos bizarros. Mas não saberia contá-los com o mesmo talento que você conta os seus, pois é.
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