Outra das tantas noites fugazes e insólitas, tratei de observar as pessoas, como ajo quando não tenho muito o que fazer ou quando me sinto um desbravador de gentes, um bandeirante flaneur - ou seja, quase sempre. Ainda mais naquele forró em que me sentia confortavelmente um etê.
E esse garoto me chamou a atenção por três segundos. Três aparentemente insignificantes segundos. Mas era tempo de uma vida.
No primeiro, estava parado, assim como eu, mas olhando sem foco para algum ponto em Andrômeda ou para um anjo que passava flutuando em morangos. O rapaz parecia feliz, mas não pleno. Faltava-lhe. Era uma grande e redonda e gelada e vistosa bola de sorvete. Isolada numa tigela igualmente branca que a deixava ainda mais desejável e fragilmente protegida.
No segundo momento, ela chegou. Minutos preciosos gastos na fila de um banheiro de clube de interior. Uma intensa lua crescente brilhou no rosto dele, refletindo o sorriso puro que a garota lhe acenara.
No terceiro segundo dessa cena que não sei por que me marcou a noite a ponto de a estar passando para o papel, a bola de sorvete foi embebida e coberta inteiramente por uma grossa, marrom, cheirosa, quente como sauna calda de chocolate.
Derreteram-se.
Chapada dos Veadeiros, Abril 2007
quarta-feira, 1 de agosto de 2007
Devaneios pé-de-serra
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