domingo, 11 de novembro de 2007

Ecstasy

Era engraçado ver aquele cara, estranhamente bonito, visivelmente alheio à realidade que lhe cercava, mas, mesmo assim, harmoniosamente envolvido por ela. Dava para ver no sorriso estampado em sua cara rosada. Não devia ser estrangeiro, mas dançava como tal – ou pelo menos fazia gênero. Parecia não se caber de tanta euforia quando andava na contramão do trio. A massa rumava a norte, ele insistia no sul. Esperto, dava de cara com todas as garotas sem precisar fazer quase que movimento algum. Os amigos passaram a imitá-lo. Com uma mão na barriga e a outra nas costas, ele era a sátira transeunte do amante latino eslavo. Parecia adorar fazer sucesso, se esbaldava com seu jeito excêntrico – especialmente porque os amigos, estes sim, típicos do meio, o seguiam e se sentiam bem e seguros por fazê-lo.

Entre uma lufada de loló, um gole de cerveja e o beijo de uma qualquer, parei de observar aquele italianinho para checar um torpedo no celular: a resposta-chave da entrevista-chave do meu livro. Repórter ridículo. Desmarquei a entrevista porque não podia perder a festa – e ela podia, do meu jeito, ser feita via celular e e-mail. Consegui as respostas que queria, estava pronto. Oquei, de volta à esbórnia. O cara estava do meu lado e eu vi nos seus olhos o brilho estúpido que eu tive, pela primeira vez, quando vi que a Renata, a menina mais linda de todas da escola, olhou para mim na missa (por conta disso alimentei uma paixão de seis meses e, é claro, ela não queria nada comigo, deve ter olhado para a espinha do tamanho de um beijinho que brotara no meio da minha testa). Otário, resolveu se apaixonar no campo de batalha das relações etéreas e superficiais, onde o beijo é artilharia e ninguém se esconde nas trincheiras.

Bom, frise-se que era uma bela loira, provavelmente dessas para quem Bell Marques é pastor o axé é catártico, mas uma bela loira. Olharam-se – alguém apertou o “mudo” do mundo enquanto 3 mil jovens de classe média e média alta se entorpeciam e se lambiam apertando com a maior força da galáxia o botão do F – trocaram um longo, tenro, apaixonante beijo. No final, o italianinho continuava olhando a garota, que logo foi puxada por uma amiga eufórica e desapareceu na multidão. E foi aí que me surpreendi. Quando achei que o mané ia ficar deprimido ou coisa e tal, ele voltou a pular e, dois minutos depois, olhou com a mesma cara de Coldplay para outra loira. Aí lembrei que era 2005 e que esta é a minha geração. A espiral roxa de um lança-perfume, a paixão que dura a vida de um protozoário. Efêmero. Instantâneo. Já. Triste.

Juiz de Fora, outubro 2005

Nenhum comentário: