quinta-feira, 3 de abril de 2008

caverna do mario kart

Era uma corrida maluca, com ícones da Fórmula 1 e um cenário de videogame. Eu no meio de desconhecidos. Gênios ao meu lado. Na curva X, na volta Y, resolvi imitar um grande ás brasileiro e ignorar a física, abandonando o asfalto e me jogando no infinito verde de um gramado de pixels. Saltei um morrinho, meu carro ficou destruído e parei ao lado dos restos do veículo de Alain Prost, que me disse que a manobra não era tão legal assim quanto parecia:
- Essa grama é mais bonita do lado de fora da TV. Mas pelo menos ela não coça.

Com o carro inutilizado, voltei a pé para a pista. Mas a pista não chegava. Era um mar verde e liso, um deserto gramíneo, solitário de tão bonito. A terra podia parecer imóvel, mas o céu não parou. Anoiteceu. Não tive opção a não ser buscar abrigo em uma pequena caverna, onde caberia somente um caldeirão grande de bruxa ou um carro para duas pessoas. De manhã, ao tentar sair, vi que tinha a companhia de um simpático rottweiller, mas, do outro lado, na luz inplacável que vinha de fora, um desconhecido, mesmo que involuntariamente, me impediu de entrar. O cachorro dele era tão grande que possivelmente era primo do Cérbero - mas com apenas uma cabeça.

E esse gigantesco cão quiçá mitológico latia e babava e uivava. Não tinha como sair. Só depois de um tempo que ele saltou sobre as minhas costas e me impediu de sair, exigindo carinhos e afagos sem parar. Fiquei o dia todo abraçado com aquele cachorro maior que um urso até que anoiteceu novamente. Ratos, alguns fofos, outros não, apareciam para me importunar. Chutar era solução, e eles sumiam como surgiam, caindo no fundo da tela desse meu sonho de videogame.

Quando finalmente deixei a caverna, cheguei a uma praia, onde encontrei meu irmão, distante, talvez dopado, incapaz de esboçar alguma vida, um relampejo de felicidade.
- Quando eu venho para essa lado da baía corto caminho por lá para voltar para casa - disse me apontando um cais que eu não tinha visto. Mas, em seguida, ele me surpreendeu:
- Como você está vivo?
- Já queriam me matar, é?
- Bem, já faz 10 anos que você sumiu. As pessoas se acostumaram com a idéia, tocaram suas vidas, estão felizes. Agora vai ser complicado você voltar, assim.

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