O homem de vermelho andava olhando para o chão, sozinho como vira-lata sem mendigo. Reencontrou a mulher, morta ou quase isso. Sem saber como ou por que fazia aquilo, removeu todos os ossos dela por uma cavidade no pescoço e os absorveu para seu próprio corpo.
Piscou, olhou desfocadamente, suspirou, piscou novamente até que falou:
- Pronto, está feito. Eu te sou e você me é.
Assim o Senhor Incrível, forte como um touro graças a seus dois esqueletos, e a Mulher-Elástico, linda, lisa, frágil e ágil, formaram o casal mais legal do mundo.
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
sonho bizarro de um dia aí VI
conchas
Tem coisa mais idiota do que o cara que começa uma frase com "é o que eu sempre digo" ou "eu tenho uma frase que..."? Sério, é ex-integrante do Big Brother, cantor de dupla sertaneja em vôo solo, jogador de futebol dos anos 90 em mesa redonda domingo à noite. O idiôta chega e lança o petardo: "Bem, Bial, eu tenho uma frase que costumo usar que explica bem esse tipo de situação" ou "Olha, Milton, eu sempre costumo dizer nessas horas..."
E o pior é que o que vem a seguir é o maior lugar-comum da galáxia, e o animal atribui a ele a autoria! hahaha
"Bem, eu tenho uma frase que ilustra bem esse tipo de momento: bobeou, dançou"
"É isso aí, é o que eu digo: espeto em casa de pau tanto bate até que apanha."
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
uhulça
Vidaloca é dormir duas horas a menos pelo melhor dos motivos do mundo, acordar uma hora e meia depois de pregar os olhos e ficar feliz em encarar umas 12 horas de trânsito para chegar na praia, só para aproveitar a folga que aquele jesuíta criou ao inventar a cidadeloca. Verão 2008, suceço.
nome aos bois
Quinta-feira à noite e o duo cerveja-televisão poucas vezes funcionou tão bem. A empresa de telemarketing que ganhou a concessão para montar sua rede de TV (-!-) de maneira polêmica menos de 10 anos atrás tem na mulher que finge ser burra mas disso nada é e usou o bucho cheio por um decano do roque para ficar famosa uma de suas maiores atrações. Na noite em questão, um acalorado debate entre um vereador da cidade meridional que há muito é conhecida, de maneira jocosa, por ser um celeiro daqueles que preferem seus semelhantes e outro, da metrópole que comemora quando há menos de 100 mil metros de carros parados e poluindo e que foi eleito em boa parte por causa de seu inegável talento em música que torce o nariz daqueles que o levantam para ouvir uma sonata de Brahms. O debate se dá devido à maneira que o primeiro ganhou espaço na mídia, trajado de messias e bombachas e realizando serviços inócuos de umbanda, o que provocou a ira de religiosos e políticos, que são criaturas que adoram ser levadas a sério. Mediando o embate, além da supracitada apresentadora, um padre de visual à la grupos de maior sucesso musical do fim dos 90 - aqueles mesmo, de cordões dourados maiores que correntes de calabouço, gel no cabelo como se ele fosse fugir, passinhos combinados e letras cheias de diminutivos - e um legítimo representante do que de melhor a juventude interiorana tem a oferecer, um rapaz de chapéu, camisa estampada, cinto de fivela anabolizada e, bem provável, a chave de uma picape que consome 3 mil árvores para ir até a esquina no bolso. Tudo isso patrocinado pelo guaraná que chamou atenção na mesma rede de TV (-!-) alguns anos atrás por alegar estar defendendo os interesses nacionais contra aquele monstro estadunidense que inventou o Papai Noel e a lenda de que o Natal é feliz. Por volta das 23h, o gongo soa, comemorando a liderança de audiência atingida naquele instante. Ou seja, do outro lado da tela, 547 milhões de pessoas identificando-se e delirando com aquele espetáculo.
O lado B do Brasil. Cara, como eu amo esse país.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
fórmula
Esqueça a física quântica, deixe-a para quem trabalha com isso e não escreve livros caça-níqueis. Mas, uma coisa é certa, a vida, a galáxia, a prateleira de action comics, o sutiã e tudo mais são feitos de fórmulas. E a fórmula do suceço é o seguinte:
um trabalho que não te faça contar os segundos para ir embora porque você se diverte nele e ainda ganha o suficiente pra comer, dormir, se vestir, viajar e beber + a pessoa que te completa ao seu lado e por baixo e por cima e sem grudar + os amigos que vão te jogar pro alto no aniversário e perguntar, do nada, num dia nublado se está tudo bem + satisfação de ser feliz com o que tem e saber esperar o que sabe que vai chegar pra completar essa lista = SUCEÇO.
Mantenha isso, cultive isso e valorize isso. Aí, é hora do ZUZEZO, o sétimo sentido da plenitude.
ulça
domingo, 20 de janeiro de 2008
tormenta
Perdeu o controle ao vê-la segurando o cigarro mais uma vez. Ela tinha prometido largar o vício. Impulsionado pela raiva que deixava seus olhos ainda mais loucos, segurou o pulso dela até imprimir seus dedos curtos de roxo. Arrancou o cigarro aceso e apagou-o ali mesmo, no próprio braço. "Seu louco", ouviu. Deu-lhe um sonoro bofete. Beijou-a, mas ela correu e o abandonou. Em uma semana, encontrou o amor tranqüilo, que ele nunca pôde lhe dar, por mais apaixonado que fosse.
Hoje, cumprimentam-se educadamente, dizem até que podem vir a ser amigos. Só amigos, porque ele ainda não sabe o que é navegar placidamente. Talvez nunca aprenda.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
redação de férias I
Duas semanas bastam para nos levar longe. Às vezes nem tão longe na quilometragem amazônica dessa terra de dom João, mas o suficiente para um menino criado nas ondas dos mares de morros ver, entre um piscar e outro de um sono leve como conversa ouvida do lado de baixo da água, que três coisas podem bastar para uma vista de matar. Uma linha, reta, sublime e coerente, dividindo um campo vasto que voltará a ser verde dali a quatro horas de uma abóbada arroxeada e reconfortante. No meio de tudo, uma árvore. Sozinha no nada, a mesma árvore.
Rodovia Anhangüera, rumo a Goiás - Dezembro 2007
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
colírio
Sábio aquele que fez voltarem à moda os óculos escuros grandes. Escondem a cara de ressaca, não mostram de jeito nenhum para onde estão olhando as pessoas e, o melhor, deixam aquelas meninas - especialmente as indiezinhas da Augusta - de rosto cavernoso, pele oleosa e nariz torto, uns quase pitéis.
Na rave todo mundo é mais bonito. Obrigado, Chili Beans, a Swatch dos raios anti-UV.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
alice
Finalmente algo que preste vindo das assessorias de imprensa. A nova do Moby (nome do meu cachorro, que mordeu o dedo do meu pai ontem), com os rappers 419 Crew e Aynzil. Como diria a menina que diz ter levado Ulça às pirâmides astecas, staili.
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
californication
O homem dirige um Porsche tão sujo e decadente quanto ele. Bebe tudo como se o amanhã fosse algo improvável. Escreve para meia dúzia de pessoas. Não passa sem um tumulto. Pegou todas as mulheres do mundo, mas sabe que a melhor de todas é a que não cansa de tentar reviver. Hank Moody é o cara.