quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O presidente de facto e o sem-teto


Os nossos amigos seguiram seu caminho sinuoso pelas multidões sobre a ponte. Essa estrutura, que existia há 600 anos e fora uma via pública barulhenta e populosa durante todo esse tempo, era um caso curioso, pois uma fileira bem compacta de armazéns e lojas, com os alojamentos da família na parte de cima, estendia-se ao longo de seus dois lados, de uma margem do rio à outra. A Ponte era uma espécie de cidade para si mesma: tinha a sua estalagem, suas cervejarias, suas padarias, suas lojas de miudezas, seus mercados de alimentos, suas indústrias manufatureiras e até sua igreja.

Olhava as duas vizinhas por ela ligadas - Londres e Southwark - como sendo bastante boas como subúrbios, mas do contrário não particularmente importantes. Era uma corporação fechada, por assim dizer, uma cidade estreita, de uma única rua, com um terço de quilômetro de comprimento. Sua população não passava de uma população de vila, e todo mundo ali conhecia todos seus concidadãos intimamente, e conhecera seus pais e mães antes deles - e ainda todos os seus pequenos casos familiares.

Tinha a sua aristocracia, claro - suas excelentes famílias antigas de açougueiros, padeiros e não sei o que mais, que vinham ocupando os mesmos antigos recintos por 500 ou 600 anos e conheciam a grande história da Ponte desde o início, e todas as suas estranhas lendas; e sempre tratavam comversas da ponte, refletiam pensamentos da Ponte, e mentiam de um modo longo, uniforme, direto, substancial, típico da Ponte. Era exatamente o tipo de população para ser estreita, ignorante e pretensiosa. As crianças nasciam na Ponte, eram ali criadas, cresciam, viviam até a velhice e finalmente morriam sem jamais pisarem em nenhuma outra parte do mundo a não ser na Ponte de Londres.

* * *

- Black Bess, a sua rapariga, ainda está conosco, mas ausente na marcha para o leste. Uma moça excelente, de boas maneiras e conduta ordeira, ninguém jamais a viu bêbada mais de quatro dias na semana.

(...)
- Mais algum de nossos amigos teve destino duro?
- Alguns sim. Particularmente os novatos...como pequenos agricultores que se tornaram inúteis e famintos no mundo porque suas fazendas lhes foram tiradas para serem transformadas em pastos de ovelhas.

Trechos do leve, divertido e ironicamente atual O Príncipe e o Mendigo, de Mark Twain

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