Trechos de Adeus às Armas, de Ernest Hemingway. soco no coração com estilhaços de granada e paixão interrompida.
Terminadas as tarefas, sentávamo-nas na sacada do meu quarto. Eu ia para a cama e, depois que todos já estavam dormindo e tínhamos certeza de que ninguém nos viria interromper, Cat se aninhava comigo. Eu gostava de desmanchar seus cabelos; ela sentava-se na cama e ficava imóvel; então, de repente, me beijava e eu tirava-lhe os grampos e os espalhava sobre o lençol. Eu pararia para observá-la, e ela não se mexeria até eu desprender os dois últimos grampos, quando os cabelos ficariam inteiramente soltos. A seguir, enfiava a cabeça por entre eles, e ela também, e ficávamos como se dentro de uma tenda, ou como se estivéssemos por trás de uma cachoeira.
* * *
- Sim - disse eu. - O estômago não pode ganhar uma guerra, mas pode perdê-la.
- Não falo em perder. Não concordo com o que dizem por aí. O que fizemos neste verão não foi inútil.
Calei-me. Eu sempre me embaraçava com as palavras sagrado, glorioso e inútil. Nós as tínhamos escutado muitas vezes, de longe, debaixo da chuva, quando só as palavras mais gritadas eram ouvidas, e as tínhamos lido em proclamas pregados nas paredes, sobre outros proclamas. Mas não víamos nada sagrado em torno, e as coisas gloriosas não mostravam glória nenhuma. Os sacrifícios seriam como os dos matadouros de Chicago, só que lá fazem outra coisa com a carne que, aqui, enterramos. Havia muitas palavras que já não suportávamos - e por fim só os nomes dos lugares tinham dignidade. Certos números, nomes e datas eram tudo o que poderíamos pronunciar com alguma significação. Palavras abstratas, como glória, honra, coragem, sagrado, eram obscenas, ao lado dos nomes concretos das cidades e rios, dos números dos regimentos e das datas.
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Aos que trazem coragem a este mundo, o mundo precisa quebrá-los, para conseguir eliminá-los, e é o que faz. O mundo os quebra, a todos; no entanto, muitos deles tornam-se mais fortes, justamente no ponto onde foram quebrados. Mas aos que não se deixam quebrar, o mundo os mata. Mata os muito bons, os muito meigos, os muito bravos - indiferentemente. Se vocês não estão em nenhuma dessas categorias, o mundo vai matar vocês, do mesmo modo. Apenas não terá pressa em fazer isso.
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O garçom saiu e fechou a porta. Voltei aos jornais e à guerra nos jornais, enquanto ia lentamente despejando a soda no uísque. Ia ter de dizer a eles para não trazerem o uísque já com o gelo, no copo, pois só assim dá para ver quanto uísque é servido, e também o copo não estará cheio demais para se misturar a soda. Era o mais sensato a fazer. O bom uísque é das partes agradáveis da vida.
- Em que está pensando, querido?
- Em uísque.
- E o que pensa sobre o uísque?
- Em como é bom.
- Sei - murmurou Catherine, fazendo uma careta.
domingo, 21 de novembro de 2010
oi de novo
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