sábado, 19 de fevereiro de 2011

UFC do buquê

Era uma mesa redonda de festa de casamento das mais inesperadas das mesas redondas de festa de casamento. Do seu lado, Victor Belfort, ainda abalado pela derrota acachapante que acabara de sofrer. "Temi pelo meu queixo, cara. Os médicos estão vendo ainda se ele não virou uma gelatina", desabafa, enquanto convidados do outro lado de mesa tiravam fotos dele sem cerimônia alguma.

Anderson, o homem que o derrotara, chegou em seguida, sem camisa, exibindo músculos e tatuagens, posando para fotos e, surpreendentemente, sorrindo e integrando-se à conversa. Apesar de rivais no octógono, eram grandes amigos. Após a tietagem, relaxam, fazem piadas com você, tiram fotos.

Sobre a mesa, o menu da festa, totalmente estilizado com motivos de Super Mario. A Ellen é fã, queria um casamento de videogame. E foi uma diversão só. Além da luta em que o próprio noivo levou uma surra, o grande salão imitando um cassino tinha muitas outras opções de lazer. No menu, podia-se ler algumas delas: "mande torpedos bêbados e veja no que dá!", entre outras.

Uma pena, não deu para aproveitar tudo. Era hora de ir embora. Os leitores da revista escolhidos para participar dessa folia de joysticks e MMA precisavam partir, e você, embora amigo dos famosos, tinha que acompanhá-los.

A vida é uma festa, a vida é trabalho e, nos bons momentos, é tudo junto.

Tudo junto.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

casas

Sonho muito com casas. Muitos sonhos se passam em casas. As que existiram na minha vida, como o Cambaco, em Tatuí, e as que ainda existem como as antigas dos meus avós em São Sebastião. Raramente sonho com a casa onde moro ou as onde morei. Quando elas surgem, estão reformadas, deformadas. E sonho, com uma frequência discreta, que cruza épocas na minha vida, com casas criadas no subconsciente. Todas labirínticas e enormes.

Há a mansão estranha adaptada à topografia de morro de videogame, toda cercada por um filete de rio que, se não serviria na função primordial de defesa de castelo, era um divertido corredor para pessoas e patos de borracha circularem entre os cômodos.

Há o monumental e lúgubre palacete cafona do bairro, cheio de salas escuras e uma piscina vazia de 50 metros de profundidade. Apesar do aspecto cinzento, sempre tem alguma celebração lá. Um aniversário, cheio de balões coloridos, crianças correndo, pipoca, futebol de sabão (às vezes na piscina gigante) e carrossel.

Há algumas outras, inclusive uma vila inteira de criaturas pequenas e simpáticas, mistura de Smurfs e um videogame antigo, Lemmings, que eu visitava muito na infância. Eu era grande.

E há a suntuosa casa de praia comumente alugada pelos amigos no verão. Sempre à espera do fim da reforma, com lascas de cimento e cômodos inteiros sem acabamento. Mas, na última visita, ela estava impecável, do ponto de vista de engenharia (quanto a arquitetura e decoração, outra história). A casa estava pronta. E a festa, começando.

O presidente de facto e o sem-teto


Os nossos amigos seguiram seu caminho sinuoso pelas multidões sobre a ponte. Essa estrutura, que existia há 600 anos e fora uma via pública barulhenta e populosa durante todo esse tempo, era um caso curioso, pois uma fileira bem compacta de armazéns e lojas, com os alojamentos da família na parte de cima, estendia-se ao longo de seus dois lados, de uma margem do rio à outra. A Ponte era uma espécie de cidade para si mesma: tinha a sua estalagem, suas cervejarias, suas padarias, suas lojas de miudezas, seus mercados de alimentos, suas indústrias manufatureiras e até sua igreja.

Olhava as duas vizinhas por ela ligadas - Londres e Southwark - como sendo bastante boas como subúrbios, mas do contrário não particularmente importantes. Era uma corporação fechada, por assim dizer, uma cidade estreita, de uma única rua, com um terço de quilômetro de comprimento. Sua população não passava de uma população de vila, e todo mundo ali conhecia todos seus concidadãos intimamente, e conhecera seus pais e mães antes deles - e ainda todos os seus pequenos casos familiares.

Tinha a sua aristocracia, claro - suas excelentes famílias antigas de açougueiros, padeiros e não sei o que mais, que vinham ocupando os mesmos antigos recintos por 500 ou 600 anos e conheciam a grande história da Ponte desde o início, e todas as suas estranhas lendas; e sempre tratavam comversas da ponte, refletiam pensamentos da Ponte, e mentiam de um modo longo, uniforme, direto, substancial, típico da Ponte. Era exatamente o tipo de população para ser estreita, ignorante e pretensiosa. As crianças nasciam na Ponte, eram ali criadas, cresciam, viviam até a velhice e finalmente morriam sem jamais pisarem em nenhuma outra parte do mundo a não ser na Ponte de Londres.

* * *

- Black Bess, a sua rapariga, ainda está conosco, mas ausente na marcha para o leste. Uma moça excelente, de boas maneiras e conduta ordeira, ninguém jamais a viu bêbada mais de quatro dias na semana.

(...)
- Mais algum de nossos amigos teve destino duro?
- Alguns sim. Particularmente os novatos...como pequenos agricultores que se tornaram inúteis e famintos no mundo porque suas fazendas lhes foram tiradas para serem transformadas em pastos de ovelhas.

Trechos do leve, divertido e ironicamente atual O Príncipe e o Mendigo, de Mark Twain