quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

púmbleos

Jimmy Page disse certa vez que queria ver um anjo de asas quebradas. Não sei se ele já o encontrou, mas eu já - twice (o mesmo número de vezes que a vi pelada, segundo aquela música do Art Brut). A primeira foi em 2004, em Macondo, um bairro desconhecido entre a Bela Vista e o Paraíso. Certa vez, sentado nos bancos do hospital Santa Catarina, ele resolveu se abrir para mim. Disse que enquanto não se livrasse de uma certa sombra pontiaguda que pairava sobre suas asas a chuva não cessaria. Todos os dias, todos os fins de semana, todos os feriados, uma chuva lenta, modorrenta, nauseabunda e arrastada parecia se alimentar de sorrisos e esperanças - as poças aumentavam aqui, as enchentes maltratavam ali e o ano terminou com a primeira grande catástrofe natural do milênio, do outro lado do mundo. Nunca mais o encontrei, mas imagino que ele deve ter voltado a voar logo após a hecatombe.

Em agosto de 2007, imaginei tê-lo visto mais uma vez, tomando sopa em uma lata usada de Neston (a embalagem era amarela, pelo menos) junto a mendigos e famílias maltrapilhas na praça do largo de Pinheiros. Desde então tenho visto e sentido muito mais chuva pesando meu cabelo e encharcando meus sapatos. Sim, era ele. Dessa vez suas asas tinham forma de colchetes.

O anjo do Sol está caído. Abraço coletivo já.

2 comentários:

Di Giacomo disse...

Bonito. A coisa está esquentando!

Ana Alice disse...

cara, TODAS as miniaturas, imagens, bonequinhos de anjo que eu tive na vida tiveram uma asa quebrada. alguém esbarrava, o bicho caía e quebrava uma asa. É sério. talvez seja o peso.