La Boca, Buenos Aires, novembro 2006
"E então, no meio daquele alvoroço, um desamparadozinho que não chegava a mais de um metro do chão mostrou-me um relógio desenhado com tinta negra em seu pulso:
- Quem mandou o relógio foi um tio meu, que mora em Lima - disse.
- E funciona direito? - perguntei.
- Atrasa um pouco - reconheceu."
"Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosse embora; mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta."
"Enquanto passava a limpo nomes e endereços e telefones para a agenda nova, eu ia passando a limpo também o entrevero dos tempos e das gentes que acabava de viver, um turbilhão de alegrias e feridas, todas muito, sempre muito, e esse foi um longo duelo entre os mortos que mortos ficaram na zona morta do meu coração, e uma enorme, muito mais enorme celebração dos vivos que acendiam meu sangue e aumentavam meu coração sobrevivido. E não tinha nada de mais, nada de mal, que meu coração tivesse se quebrado, de tão usado."
"Somos todos mortais até o primeiro beijo e o segundo copo."
* * *
Eduardo Galeano, direto, espirituoso e deveras humano em O Livro dos Abraços. Obrigado, pelo presente, Zaizer!
domingo, 21 de março de 2010
abraços pela américa
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4 comentários:
Interessante o texto.
porque nascer é uma alegria que dói
[ http://migre.me/rHrq ]
O link lá no meu blog estava errado, mas consegui chegar até aqui. Quando escreverem a história vão contar: Zambon ensinou - com suas sugestões de livros - dois jornalistas e serem poetas. E tenho dito
Belo, inquientante...Obrigada!
Abraços
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