a noite estava agitada na grande metrópole. crianças de olhos brilhantes e edultos de sorrisos de infância ouviam admirados o discurso da velha, alardeado por telões espalhados por entre os arranha-céus. ela era a colunista mais famosa da cidade, uma cronista ácida e bem-humorada, mas que parecia finalmente ter encontrado o caminho certo a seguir com seus textos. empolgava e estava mais empolgada do que nunca. e seus filhos e netos, que dirigiam a revista para a qual ela escrevia, sentiam isso.
no prédio de onde eclodia a mensagem em altíssimo som aos cidadãos, o espectro da velha iluminava todo o quarteirão, para a alegria do neto mais novo, que sabia que nunca antes uma revista ganhara publicidade gratuita de tal proporção. afinal de conta não se tratava de uma ação de marketing. a própria imagem da velha fazia brilhar a vizinhança e sua voz se espalhava pelos telões graças a tecnologias piratas de admiradores que trabalhavam na rede de comunicação eletrônica pública.
era emocionante. a cidade vivia um momento ímpar. celebridades faziam reinterpretações da Constituição e expunham em grandes placas no pé do prédio de onde o eco da velha discursava. naquele dia, o texto era assinado pelo rapper marshall matters, que chamou atenção de políticos que passavam ali enquanto faziam uma reunião andando de patins e terno entre as pessoas.
quando a velha parou de falar e disse “sempre cuidarei de vocês”, o neto sabia que era uma nítida mensagem direta à família, embora o texto dela fosse tão universalmente zeloso que toda a cidade se sentiu abraçada por seu espírito crítico e luminoso. terminado o discurso, o espectro de luz subiu rapidamente o prédio, como uma enorme e rápida centopeia, curvando-se ao passar pelo relevo de sacadas e janelas e vigas e adornos do edifício. chegando ao topo, a luz emoldurou-se na réplica diminuída da estátua da liberdade que havia lá em cima. a cidade inteira brilhou por um instante. todos ficaram em êxtase. estavam bem.
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
ela sabe das coisas
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