sábado, 8 de maio de 2010

entropia

Foi lhe dar um beijo. Desses longos, de casais recém-apaixonados, ainda sem os traumas da convivência. Mas o beijo não acabou. Não porque eles não queriam (todo beijo acaba, afinal), mas porque, bizarramente, suas línguas eram uma só.

Não é força de expressão. Tampouco suas línguas deram nó, como os desenhos animados fazem crer. As línguas se fundiram em uma só, eram agora uma única faixa vermelha, que não sabia aonde ia nem de onde vinha. Um fiapo de carne vermelha que não cabia mais em seus corpos.

Angustiado, o casal não conseguiu se desvencilhar, claro, e, balbuciando entre salivadas, não se entendiam mais. Quanto mais desesperados ficavam ao tentar separar as línguas - ou melhor, transformar aquele único órgão em dois, como era antes, supõe-se - mais grudados ficavam.

Até que os lábios se juntaram. E, depois disso, se tornaram um único beiço. Não tinha mais volta. Logo o queixo, nariz, olhos, rosto se colaram. Era como um truque de espelho ou os primórdios dos efeitos digitais (tipo a irresistível textura de metal líquido do Exterminador do Futuro).

Não demorou mais que 30 segundos até que eles se transformassem em um só. E, por um instante, foram isso. Até que ele virou ela e ela virou ele. E não, isso não era bom, muito menos romântico. Porque era literal.