Era uma cozinha de azulejos brancos (alguns levemente encardidos, outros trincados) até metade da parede, com uma porta para o quintal, a grama tão alta quanto o cabelo do moleque que enrolou duas semanas para cortá-lo. Na porta da geladeira, tão velha quanto aquela casinha de interior, um gatinho preto, do tamanho de uma mão, com uma cabeça grande e desproporcional. Um Hello Kitty freak show. Miava e ronronava, seria fofo não fossem aqueles dois tocos em seu lombo. O que achei ser um par de asas mal formadas eram, na verdade, patas traseiras inutilizadas. Órgãos vestigiais ou uma ecdise mamífera preguiçosa. Não serviam para nada, apenas como saias horrendas das patas normais.
Fecho a geladeira e há pequenos cachorros, iguais ao gatinho. Devia ser uma nova promoção do McDonald's das trevas, aqueles montes de cachorrinhos e gatinhos, lindinhos e bisonhinhos, feinhos de dó, frágeis e miseráveis. Não me espantaria se fossem anencéfalos. Proliferavam-se como gremlins.
Fui até a sala. Ao voltar, só havia um cãozinho. Os outros sumiram e o gatinho preto havia sido degolado por um falcão, que bebera seu sangue até arrotar, abandonando o corpo deformado do animal como uma lata vazia e amassada. Cuidei do cachorro. Gostava dele, afinal.
sexta-feira, 27 de julho de 2007
sonho bizarro do dia
Mim no geum
Tá lá:
http://vcnog1.g1.globo.com/VCnoG1/0,,MUC77933-8491,00.html
Jornalismo colaborativo é serviço comunitário de quem?
segunda-feira, 23 de julho de 2007
O Brasil lançou um foguete...
Cuba, por enquanto, não vai lançar. Mas no dia do lançamento do foguete em Alcântara, as cubanas, de novo, acabaram com as brasileiras, que amarelaram no fim - de novo. Refiro-me ao vôlei feminino dos PANacAmericanos, competição que inventaram para o Brasil achar que é potência olímpica.
Brown shower em Congonhas.
Enquanto o Brasil não ganha no vôlei, quero ver Cuba lançar um foguete. Cuba lançar, Cuba lançar.
quinta-feira, 19 de julho de 2007
pensação do dia
"Se dói teu joelho, lembra, motherfucker, que não foste contratado por cotas para deficiente."
terça-feira, 17 de julho de 2007
Resenhas de uma linha só
Medos Privados em Lugares Públicos é um filme bobo com final de longa dos Trapalhões.
sexta-feira, 13 de julho de 2007
Líbano pra Mickey entender
"O Líbano pode ser comparado a uma bomba-relógio cujo tique-taque é acompanhado com angústia por todo o mundo."
"O Líbano vive aquele momento inicial de uma disputa entre pesos-pesados. Os boxeadores se encaram no centro do ringue, na expectativa de quem tomará o primeiro golpe."
E tem mais, sobre Clint Eastwood:
"Dirigir um filme é mais ou menos como comandar uma batalha."
* * *
Metáforas lulísticas. Normal seria se fossem do presidente. Mas, ironia da vida, são de Veja.
quarta-feira, 11 de julho de 2007
Sustenta aqui, ó
Acabei de chegar de uma reunião do Planeta Sustentável, iniciativa bacana patrocinada, entre outros, pela Bunge, que produz o óleo Soya, que tem soja transgênica na fórmula, que deixa ambientalistas em polvorosa. Na palestra - graças ao bom Deus sustentada por carolinas, sanduichinhos e suco de melancia - no suntuoso terraço Abril, de onde se vê a beleza púmblea da marginal Pinheiros crepuscular, o tema discutido era o de maior inserção de reportagens que tratam do tema do desenvolvimento sustentável.
Enquanto isso, no bar, este que sempre chama minha atenção, três televisões ligadas para ninguém ver. É, apaguem a luz e desliguem o monitor.
segunda-feira, 2 de julho de 2007
Ambulante
Era mais uma tarde corrida de trabalho quando alguém interrompeu o silêncio de berros da chefia e teclados sendo esmurrados: "Felipe, lembra do Armandinho?"
Assim como qualquer um, eu respondi o óbvio: "Aquele do 'quando Deus te desenhou ele tava sem borracha?'"
"Não, Tchulipe, o Armando, aquele que vendia bonecos de pano na Vila...Pois é, morreu."
"Poutz, que droga. Velhinho gente boa."
Nas duas horas seguintes, outros amigos e conhecidos, de outras procedências e galeras, comentaram o mesmo: "O Armando, dos bonecos, velho figura, bateu-se, escafedeu-se pras bandas de lá."
Teve até um chegado de Cásper, Matheus Pichonelli, cronista frustrado e repórter maldito, que escreveu um texto daóra sobre Armando, mas eu, tão frustrado e maldito quanto e possivelmente mais cansado, apaguei por acabar (acabei por apagar) e não vou republicar aqui.
Anfã. Armando me fez lembrar a velha que vendia sacolé (aka geladinho) pelas escolas da metrópole resendense. Ninguém falava dela, mas todos a conheciam, todos compravam seus chup-chups de groselha supermelados. A mesma coisa rolava com a tia dos churros da hora do recreio, o doidão do coco da praia, o cara da pipoca na saída da igreja. Quando sumiam, morriam ou se elegiam vereador em sua cidade em Minas, a gente se tocava de como eles davam um colorido lúdico e amistoso às ruas.
Armando era desses que tornavam as ruas da Vila Madalena e a região da Paulista, sempre cheias de buracos, matinhos, cocôs, mendigos, manobristas, flanelinhas, valetes, raio que os partam, chinelos de couro, mochilas de faculdade, olheiras de expediente e botas horrendas, um lugar mais humano e mais legal. Mesmo que quase ninguém percebesse isso.
Nunca comprei um bonequinho de pano dele.